terça-feira, novembro 27, 2007

age maps

age_3.jpg

belas, estas fotomontagens, mostram pessoas em criança e depois na fase adulta.
algo de filosófico e de freak-show ao mesmo tempo. vai na volta é disso que se trata.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Branding Segundo Frank Lucas (Marca Visível, Gestor Invisível)

Há uns tempos atrás foi editado um livro de Anthony Schneider intitulado “A Gestão segundo Tony Soprano”. Ao que parece teve sucesso graças aos seus métodos pouco ortodoxos, pragmáticos e inteligentes de gerir. Esta inspiração no modus operandi de uma personagem de ficção, mafiosa e italo-americana deverá ser bastante inspiradora, mas as lições de Frank Lucas, essas já devem estar a ser introduzidas nos manuais escolares do próximo ano, até porque aliam o glamour dos gangsters à fiabilidade de uma história verídica.

Frank Lucas é o personagem principal do último filme de Ridley Scott – American Gangster, baseado em factos reais decorridos durante a Guerra do Vietname e localizados no Harlem. A estratégia de Frank Lucas é a de um puro empreendedor que corta os intermediários, vai directamente aos produtores asiáticos e vende um produto “twice as good and half as cheap”, ou seja, coca e heroína 100% puras. O princípio não é muito diferente do modelo de negócio da multimilionária Ikea: mobiliário barato, bom design e o consumidor leva-o para casa e faz o que quiser com ele. A uma certa altura, Frank dá uma lição de branding a um dealer que fazia revenda do seu produto “Blue Magic” cortando-o com farinha e retirando-lhe a reconhecida pureza.

Ponto 1, a marca:

“Blue Magic is a brand name, like Pepsi.”

Ponto 2, os consumidores vs gestor:

"They don’t know me any more than they know the chairman of General Mills."

Ponto 3, a expectativa:

"When the customer buys Blue Magic they expect a certain level of quality, so when one of his dealers cuts and mixes his own product but sells it under the same name, that’s trademark infringement."

Um gangster a falar de gestão era algo a que já estávamos habituados, mas a defender a consistência de uma marca desta maneira, é definitivamente uma postura que muitas agências de comunicação deveriam copiar.

Ao contrário da marca, o seu gestor deve manter uma postura low profile, especialmente se a marca representar um produto ilícito. E nunca, em caso algum, aparecer em público com sinais exteriores de riqueza ostentatória, vestido, digamos, com um casaco de peles de marta e barrete a condizer, a peça que despoleta a caça ao american gangster no filme de Ridley Scott e o úncio momento em que Frank Lucas comete realmente uma traição à sua essência, de homem aparentemente invisível.

“The loudest man in the room is also the weakest man in the room.”

Entretanto descobri um site produzido pela Interbrand que refere brands cameos, a aparição de marcas em filmes, tema bastante na ordem do dia, no momento em que sairá brevemente uma nova directiva europeia sobre product placement.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Crime & Castigo

1088000209_3fb069b178.jpg
Nada melhor que a ironia dos retratos policiais dos criminosos dos anos 20 terem ganho com o tempo uma qualidade artistica.... mais aqui.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Momento Epifânio da Manhã

Descobri que NUNCA mais vou começar uma história com “Estava de manhã a tomar banho, quando...”

Momento Epifânio da Tarde

Anita descobre o que é o Sarapatel (iguarias preparadas com vísceras de porco, cabrito ou Borrego) e comenta: “QUE NOJOOOOOOOOOOOOOOOOOOO”

Momento Epifânio da Noite

A incauta rapariga registadora com nome de chá, revela os 2 slogans registados por uma determinada marca, quando todos os presentes pertencem a agências que tinham participado no concurso para tentar ganhar essa determinada conta e proposto slogans bem diferentes. Ah, e o resultado do concurso ainda não se sabia oficialmente.

Momento Epifânio da Semana

Sr. Flores (não confundir com Señor Flores) no meio do seu discurso diz a palavra “sexo” ligeiramente mais baixo que as restantes palavras, momento quase tão enternecedor como a écharpe magenta que ostentou grande parte da noite.

Momento Epifânio do Ano

O Sr. Nefasto senta-se na esplanada de uma das duas tascas paredes-meias com a Casa dos Bicos e diz assim:

“Acho que aquela tasca é que era boa..., vim para a concorrência e já estou arrependido.”

Ao que eu faço notar a grandiosidade do comentário:

“Mas isso é a história da tua vida.”

Amigo Alheio

Quatro da manhã do dia de finados, estou com o Sr. Nefasto na parte de trás de um carro da policia que acaba de fazer um troço da Rua Augusta em pleno passeio. No rádio JP Simões canta “Só quem saltasse o puro escuro poderia ver no muro o grande amor / E a cidade / Que venera novidades / Pôs-se às cegas por aí / E foi descambar / Bêbada / Na contramão”.

Não, não fomos apanhados com um copo a mais nem a atentar contra a moral pública. Talvez pior, talvez melhor. Voltando meia hora atrás, estou eu na Bica com demais personagens desta fábula e recebo um chamada. Depois de confirmações de identidade, dizem-me que têm ali à frente os meus documentos, ali na esquadra da Rua da Boavista, onde descobriram o meu cartão da agência com o respectivo nº de telemóvel. Lá me convenci que não era uma piada e desci até à esquadra, lembrando-me da última visão dos meus documentos, sossegados dentro da minha mala de tiracolo recém-comprada numa loja Desigual em Madrid, que por sua vez estava dentro da mala do carro, estacionado ali para os lados do Chiado.
Na mesa à frente de uma simpática mulher polícia, vejo as minhas chaves de casa, um pequeno caderno onde costumo guardar o B.I., carta e papéis de rebuçados, e a minha caixa de óculos de ver, comprada no chinês, com óculos e tudo. Uma rapariga, também assaltada, tinha-os levado até lá.

Entretanto chegam os dois policias de giro que nos guiam até à Rua do Ferragial, onde, pelos vistos, vários carros tinham sido assaltados.

Chegamos ao local do crime e, entre o carro e o passeio, descubro a bolsa onde o meu pai guardava o cachimbo quando fumava e eu costumava esconder o iPod, essa peça com 6 Giga de músicas e alguns trabalhos lá dentro que dava tanto jeito não ir parar a mãos alheias. A porta do lado do lugar do morto está dobrada em cima como papel de pouca gramagem, lá dentro o painel frontal do rádio desprezado em cima do banco. Um dos policias comenta resignado “Ah, isto deve ter sido o Cláudio! É o modus operandi dele e saiu há pouco tempo da prisão.” Fiquei com cara de parvo a olhar para ele, não sei se pela naturalidade do comentário ou por ouvir um policia a utilizar uma expressão em latim.

Abri a mala e, claro, tinha ficado tudo para trás, preciosidades como uma embalagem de óleo do carro, um limpa pára-brisas velho, cadernos de apontamentos de trabalho, tudo ali, menos a minha mala nova, o iPod e os meus óculos escuros Ray-Ban. Os policias não chamaram helicópteros, não calçaram luvas de borracha, não isolaram o perímetro, nem sequer tiraram impressões digitais, aconselharam a fazer uma participação e fizeram a piada “Agora a sua namorada nunca mais lhe empresta o carro”. Pois.
Então, fechei o carro e com o Sr. Nefasto pusemo-nos à procura de outros possíveis frutos do furto inadvertidamente caídos no chão. Procurámos do Museu do Chiado até ao Tóquio, onde ainda tentámos entrar, mas já estava fechado. De volta à Rua do Ferragial ainda farejei mais um bocadinho até que pára um carro ao meu lado cheio de pessoas e o condutor projecta a voz cá para fora “Pois, roubaram os carros todos aqui, não foi!? Uma rapariga que chegou mais cedo viu tudo assaltado!” Então aproximo-me do carro e respondo “sim, assaltaram o meu e fiquei sem um iPod e uns óculos Ray-Ban.” Um rapaz do banco de trás estende-me uma caixa de óculos que abro rapidamente e onde descubro os meus óculos imaculados. Ia entregá-los agora à policia. Obrigado, disse incrédulo, obrigado. Obrigado colega furtada. obrigado Cláudio por me teres deixado os óculos, os documentos e as chaves de casa, obrigado por não teres partido o vidro nem levado o carro para fazer um assalto a um banco, obrigado por me dares mais uma razão para ir de transportes para o bairro e me incentivares a comprar um iPod novo. Vejo-me obrigado a isto tudo.




No meio da nossa busca ao perímetro o Sr. Nefasto tirou-me uma fotografia postada mais abaixo onde eu tiro 2 fotografias a uma rede de obra com néons.
Duas fotos talvez candidatas a moral desta fábula bêbada - “O trabalho de uns é a guerra de outros.”

segunda-feira, novembro 05, 2007

fado

banho.jpg

Mr. Lda andava algures lá fora,
entre um tinto e outro tinto e outro tinto.

Realmente a metafisica aparece nestes momentos.
uns instantes em que tudo faz sentido e nada tem importancia.
Depois os neurónios voltam ao normal, e lá se vai a metafisica,
e o sentido e tudo o resto.

mr.Funesto

ricopy.jpg

aprecio especialmente essa vossa pose de ballet.
tem simultaneamente algo de gracioso e de desastrado.

praxis

kalmaria.jpg

“…e então, sois homem de valor?”
“claro, não vedes que tenho posses?”
“mas dizei-me vindes p’lo caminho do bem ou p’lo caminho do mal?”
“do mal, caro amigo, do mal”
“as posses apenas levam ao mal, é certo.”
“enquanto nos restar valor, é mister dizimar todas as posses.”
“com que fito, amigo meu?”
“o de libertar espaço, para a queda ser grande e definitiva. Já que nada mais temos a achar.”

A maquina de flippers não está muito boa. Umas vezes dá bolas a mais, outras faz tilt sem mais nem menos.

Tilt sem mais nem menos.
Brindemos a isso. Um acto de valor.

o ferrador

Img002.jpg

"se não quer ter aborrecimentos, corra Portugal de lés a lés com meias e collants Ferrador nos pés."

Um reclamo que é meio aviso didáctico, meio ameaça.
Porque é que temos que correr Portugal de lés a lés?  e se não o fizermos temos aborrecimentos?  Podemos acordar no fundo do Tejo, ou do Mondego?
Talvez haja mais nesta velha loja do que deixa adivinhar a sua montra.

fumo.

fumo01.jpg

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

butterfly effect

Img000.jpg

será que o bater de asas de uma borboleta amarela
que um dia passou pelo meu quintal alugado mudou a minha vida?
ou será que apenas fez cair uma árvore na Amazónia, cuja queda ninguém ouviu?

snooker club

snooker.jpg