sexta-feira, julho 29, 2005

The saddest part of a broken heart


Fórum Lisboa cheio. Tudo muito bem sentadinho.
A razão de ser da noite entra no palco de vestido branco de folhos e ar tímido (pelo menos ao longe). Agarra na sua guitarra eléctrica e arrebata as minhas expectativas logo à primeira canção. O disco Let it Die é um bom disco, limpo, melódico, introspectivo, melancólico, iludido, desiludido, sempre certeiro no equilíbrio voz-letras-música.
Eu não estava preparado para aquilo, para aquela abordagem. Já não sei qual foi a canção. Gatekeeper? One Evening? Sei que a voz intervalava com a guitarra e as duas respeitavam-se exemplarmente. Lembrei-me da banda sonora do filme Dead Man, daquela fantástica guitarra do Neil Young a cruzar a paisagem westerniana de Jim Jarmusch. A guitarra eléctrica quando respeita os silêncios ganha contornos de instrumento de orquestra. Arrepia. Nunca esperei ficar conquistado assim, à primeira. A partir daí tudo podia correr bem, e correu. Um concerto é um conjunto de factores que ultrapassam a qualidade da interpretação. Existe a simpatia, a interacção, o sentimento de estar a viver um momento irrepetível. Tudo isto aconteceu. Desde Feist ter convencido os mais “cool” a virem sentar-se à frente. “the ones who seat at front in theatres are the same that used to seat on the back of the bus.” a ter conseguido pôr toda a gente a cantar o “malhão, malhão” para o telemóvel numa ligação para a cunhada com o apelido “Lisboa”, tudo se conjugou para tornar aquele concerto único. A guitarra, dois microfones, um para suspirar, outro para cantar e um sampler que serviu para duplicar a voz ou trazer o piano de Gonzales ao palco fizeram a festa. As colaborações com os amigos Mocky, Broken Social Scene ou Apostle of Hustle ajudaram a enriquecer o alinhamento para lá de “Let it die”.
Na última musica, já encore, dançámos ao pé do palco com os seguranças do Fórum Lisboa a lançar aquele olhar intimidante “só me pagam até às 11 da noite”. Já cá fora, ficámos a falar até desaparecer a pequena multidão e surgir um modesto Renault Mégane onde à força de muita persistência tetriana coube todo o material do concerto e ainda uns três técnicos. Leslie Feist apareceu, fez uns comentários e ainda sugeriu que talvez fosse mais interessante fazer a viagem para o Porto de carro e não de avião. Demos-lhe os parabéns pelo concerto e regressámos a casa convictos que aquele tinha sido um concerto completo.

quinta-feira, julho 28, 2005

de novo o nome da rosa que já morreu

Parece que os nomes das coisas – de todas as coisas – estão à venda. Alugamos os nomes dos estádios, dos festivais de música, das portas e das bancadas. Os nomes foram atribuídos durante séculos como forma de perpetuar na memória colectiva pessoas ou acontecimentos importantes. Avenida da Liberdade, Rua Alexandre O’Neill, Estádio José Alvalade por exemplo. Agora vamos ter Estádio da Luz – Feira Nova com a porta A1 – Coca-Cola. São as marcas que vão condicionar a toponímia futura das nossas cidades. Não os cidadãos de mérito, não os acontecimentos relevantes (também eles patrocinados por marcas, para quando as legislativas -Sagres?).

Da mesma forma muitos julgam e replicam um ideia idiota como se fosse o achado do século XXI: os países são marcas. E sobre esta estupidez criam-se campanhas para vender o pais como se vende a margarina (claro que se vendemos os políticos como a margarina, esta conclusão era inevitável)

Mas se pensarmos mais do que um segundo sobre este tema concluímos uma coisa:

A identidade da marca funciona e constrói-se ao contrário de identidade de um país. A marca é construída do topo para a base, sendo os produtos da marca o reflexo e declinação da sua filosofia/missão/prática comercial e por ai em diante.

A identidade de um país é gerada da base para o topo, os seus dirigentes e elites são escolhidos, ou existem porque as bases assim o permitem, sendo um reflexo destas.

A marca é escolhida pela administração, directores, gestores e demais barbeiros.

O pais é escolhido por todos, todos escolhem ou toleram as elites, isto é verdade em qualquer sistema politico não só na democracia. Pois nenhuma ditadura por cruel que seja sobrevive se a maioria da população não gostar disso.

Quando se pretende transformar um país numa marca por real decreto de marketing nada acontece, o eterno lugar comum do país-real permanece imutável. É indiferente.

Portugal não é, nem será uma Costa-Leste da Europa. Porquê? Porque quatro mil anos de história desmentem-no. Até podemos alugar o nome do Algarve para Algarve-Pestana Resort & Golf que não seremos a Costa-Leste.

Estamos a caminho de ser o nome de uma coisa que não existe. E não nos lembramos do nome que tínhamos quando ainda existíamos.

Image for the people

nefasto1

O Flickr e eu

Conhecem o Flickr? É um site para alojar fotografias, mas também é muito mais do que isso. Cada vez que entramos na nossa página há sempre umas quantas fotos que aparecem de forma aleatória, se nos interessam, clicamos nelas e vamos parar às páginas de outros membros da comunidade, pessoas que, tal como nós, têm “friends” e “famíly”, links para pessoas com quem partilhamos imagens, gostos e opiniões. À minha página veio parar uma tal de Polish Sausage Queen, uma fã de duas ou três imagens de que fiz upload. À conta da minha primeira vizinha declarada passei a conhecer outras tantas pessoas que tal como eu gostam de “street art”, “new york” ou “cartazes ´série B”. Quase sem querer e sem me aperceber pertenço a um grupo com determinados interesses. Tenho afinidades inconfessadas aos meus amigos “reais”, mas completamente disponíveis para os meus amigos de zeros e uns.
Cada foto que pomos on-line pode ser baptizada com um “tag”. Ao fazer uma busca no Flickr tenho a possibilidade de ir parar a fotografias fantásticas de profissionais e amadores que obedeçam a esse determinado tema. Façam uma busca nas imagens do google e no Flickr e reparem no universo de diferenças, de qualidade especialmente.

O Flickr e as notícias

Nos atentados de Londres o apertado controle dos meios noticiosas sobre imagens impressionantes levou à criação de uma página do Flickr com imagens tiradas por amadores com os seus telemóveis e máquinas digitais. A grande massa democrática e desinformada passa a perna à grande rede totalitária de comunicação?

O Flickr e a arte

Em Amesterdão foi montada uma exposição, mais propriamente um Peep Show, onde o público espreitava fotos do Flickr que surgiam aleatoriamente.

O Flickr e o design

Estes simpáticos senhores inventaram a fonte inesgotável. Obrigado Hidden Persuader pelo link.

caderno06

caderno06
Desenhado ao natural.

terça-feira, julho 26, 2005

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Belo trabalho do alfacinha target.














Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Excerto de uma das mais belas letras de sempre do grande Chico Buarque.

Na minha infância

parede1
batia com a cabeça na parede quando estava irritado, literalmente. Hoje em dia bato com a cabeça na parede a toda a hora, no sentido figurado. É a isto que chama "crescer"?

Desenho #26

bocadeincendio_

Vamos lá caros sócios, isto não pode parar, ânimo!
Este boneco devia ter sido enviado para uma revista chamada Boca de Incêndio, mas o "Trabalho Obrigatório" não deixou. Melhor sorte para a próxima.
Estamos em época de balanço, avaliações e apresentação dos CHARTS do primeiro semestre de 2005, e não vejo resultados! Quero mais desenhos! Desenhos! Isso ou fotos de nús artísticos.

quarta-feira, julho 20, 2005

Cenas

cenas

conspira1

conspira

caracolas

Eles saem à noite, são pardos, têm ideias e aplicam-nas. Bem-haja.

Hate is a good thing

Não, não vou falar do Grande prémio de Cannes. Já tudo foi dito sobre aquela maravilhosa direcção de arte. Fico contente que haja clientes sem medo da palavra "ódio", palavra odiosa e impensável para a maioria dos clientes. Não foi há muito tempo que me chumbaram headlines só porque tinham a palavra "não". Nem sempre a palavra "não" implica que estamos a ser negativos. Pronto já o disse.
Quero também desabafar isto: odeio a palavra "impactante", acho-a feia, de mau gosto, completamente jargão de vendedor de publicidade e, surpresa!, é uma palavra que não existe. Lanço um desafio para os accounts e demais defensores dos projectos alheios: vendam uma ideia sem esta palavra, verão que não ficarão coxos. Pronto também já o disse. Voltarei mais tarde a falar sobre palavras odiosas e bengalas de má qualidade.

sexta-feira, julho 15, 2005

O desígnio (pedimos desculpa pelo incómodo)

lixo
Entrada pela outra porta. Não há trocos. Saída ->. Multibanco fora de serviço. Não há impressos. Volto já. Empurrar. Avariado. Máquina à espera de manutenção.
Os sinais e avisos improvisados pelos empregados de serviço sempre me fascinaram. Vejam o guichet de venda de bilhetes de metro e, escrito à mão, a caneta bic azul, letra hesitante, está o aviso: não temos moedas. Onde é que está o tipo de letra oficial? O logotipo encomendado a uns especialistas de branding ingleses? As margens de segurança? As directrizes da marca? A assinatura? Não interessa. É preciso passar a mensagem e pronto. No caso desta fotografia aprecio especialmente a escolha do formato do cartão que contém a mensagem. É uma seta que aponta para o lixo. Simples e nada revolucionário, mas além da vantagem de reciclar a embalagem de uma base de chuveiro, funciona na perfeição.

Golden black & white


Meet Django Reinhardt, entre outros, neste site do fotógrafo William P. Gottlieb com fotografias da golden age do jazz.

quinta-feira, julho 14, 2005

Álvaro Cunhal, a sua irmã, o cardeal patriarca e os restantes clérigos.

Sempre que oiço um comunista - dos que são comunistas a vida toda, lutaram, foram presos e torturados - sinto uma estranheza muito grande. A mesma estranheza que sinto quando - muito raramente - encontro um padre com uma fé verdadeira e não com a velha lengalenga de seminarista com sotaque minhoto.

A coragem e a luta inabalável por um ideal é uma coisa que me comove, fala suave ao meu ouvido quixotesco. Mas quase sempre esta coragem e luta por valores estão associadas a um dogmatismo profundo e a uma incapacidade em questionar a coisa em que se acredita. Pois que quando analisamos racionalmente estas coisas é quase inevitavel concluír que não são como se vendem, nem salvarão ninguém, apenas alguns, apenas os do costume.
E então a minha admiração por estas pessoas diminui. Descrente de tudo, racionalista sempre, fico vazio de heróis, de ideologias e de fé.

Resta-me trabalhar para ganhar dinheiro e poder almoçar todos os dias no Painel.
Porque nas pataniscas, nos filetes e na cabidela eu acredito.

Candidato Vieira

Os palhaços são o espelho da sociedade.
O Sr. Vieira é o melhor palhaço de Portugal.
As suas criações são o melhor retrato do povo português.
O Sr.Vieira, multifacetado criador, é um digno discípulo do Sr.Bordalo Pinheiro.


Se a sua candidatura à presidência tivesse acontecido, este empedernido ateu e anarca tinha ido à igreja antes de ir votar. Votar no Presidente Vieira, claro.
Ontem no emproado Magazine d'a 2, a apresentadora mais afectada e afrancesada da TV disse em directo e no cumprimento do seu serviço público: "Ena pá 2000, 20 anos a pedalar na bosta".

Obrigado Sr.Vieira, este momento ficará para sempre no meu coração.

quarta-feira, julho 13, 2005

Personagens

delicatessen
Louison, Ben, Fred, Sailor Ripley, Travis Bickle, personagens de vários filmes que fizeram história e a que nos habituamos a tutear, desenhados de forma livre e original, mas facilmente reconhecíveis. Pelo menos para mim o "Manual de Instruções para Crimes Banais" é um filme histórico. Fez-me acreditar que uma boa ideia, um bom personagem e pouco dinheiro podem fazer maravilhas. Obrigado pelo link Sr. Garcia. Provocação para o Sr. Nefasto que agora anda a desenhar o que vê na tv: always draw good moves.

terça-feira, julho 12, 2005

La Vampirella

v019

Vampirella nasceu em 1969 numa revista de magnifico preto e branco. Com as capas deslumbrantes do lendário Frank Frazetta, rapidamente entrou para a história da BD.
Muitos dos números publicados durante a década de 70 tinham a arte de Jose Gonzalez, outro nome grande da BD americana. Vampirella regressou em 1992 num formato Comic, estilo Gen13 e Spawn, demasiado encurralada nas cores do Photoshop. Mas as vampiras nunca morrem e os álbuns dos anos setenta continuam a superar em muito a actual frieza e desleixo digital.

segunda-feira, julho 11, 2005

A faina

atum

Catita

atum1Esta foto vai para Moura.

Something fishy

atum2
Este Meco, não foi Meco, foi Tejo. Este Meco foi o primeiro que perdi e pelo que me disseram não perdi muito. Muito cheiro a peixe, poucos músicos, pouca emoção, pouca escolha. Muita doca, pouca pesca. O primeiro ano com Herbert às quatro ou cinco da manhã, isso sim, memorável. Ou há 3 anos com Kings of Convenience no auge, Badmarsh and Shri ao rubro e tanto, tanto por onde escolher. Ou mesmo o ano passado novamente com Herbert, Bjork e DJ Patife. Enfim o que é bom não dura para sempre. Meco is dead. Long live Meco.

sexta-feira, julho 08, 2005

Linguado com paradoxo

Queria partilhar o nome de uma doença que pode afectar a língua dos mais incautos: Glossite Rombóide Mediana.
E queria aproveitar para pedir desculpa aos nossos visitantes mais puritanos (esperam que sejam poucos) para o facto de o Sr. Nefasto ter apresentado um nu frontal sem qualquer aviso ou advertência. Não temos a ambição de ser generalistas, mas sabemos que há quem visite o nosso honesto blog em repartições públicas, terrenos camarários e ministérios. E não, não queremos o Estado no nosso encalço. Já basta o IVA e os seus amigos. Por estas e por outras é que o Sr. Nefasto se quis redimir com um pouco de branco que limpasse a sua consciência negra e cheia de referências ao belo (vulgo: corpo feminino desnudado). No fundo, este pedido de desculpas é indesculpável.

quinta-feira, julho 07, 2005

BASTA YA

white

terça-feira, julho 05, 2005

Storm

(c) Don Lawrence

Continuo a viagem pelos meus desenhadores de culto.
Don Lawrence (Donald Southam Lawrence, nasceu em Novembro de 1928 em Londres e morreu
em Dezembro de 2003.
Quando saiu da escola e decidiu ser desenhador, Don comprou alguns comics de cowboys, redesenhou-os e foi procurar emprego nas editoras. Acabou por passar quatro anos a desenhar "MarvelMan", uma espécie de Capitão Marvel inglês.
Nos anos 60, Don já um artista conhecido, é convidado a desenhar "The Rise and Fall of the Trigan Empire". Uma época de prazos apertados, comportamento irresponsável, muitas mulheres e álcool (Estes artistas irresponsáveis são demasiado recorrentes nas minhas preferências).
Após desentendimentos com os editores ingleses parte para a Holanda onde começa a sua maior obra: Storm. A história de um astronauta que numa viagem à mancha vermelha de Júpiter viaja no tempo e regressa à terra noutra época, da qual tenta desesperadamente escapar. Mas sempre acompanhado de uma bela ruiva chamada Carrots (pois bem...) que é constantemente raptada e ameaçada. O que permite a Storm ser como um cavaleiro andante, sempre corajoso na defesa da sua dama.
Procurai, pois, os livros deste senhor. E sereis muito mais felizes.

sexta-feira, julho 01, 2005

Ride

bikeFrom street art to window shop art.

Time, it is Time

time
A Time, a prestigiada Time saiu à rua e pôs questões.

Mais detalhes em Wooster Collective.