segunda-feira, março 31, 2008

sexta-feira, março 28, 2008

How to be a voyeur





Instructions: have internet and a search engine. Then hunt for pics. Example of search results, photos from Daryl Banks.

quinta-feira, março 27, 2008

Dirty Drawing Day

dirty drawing 1

dirty drawing 2

Técnica mista sobre papel com tinta vermelha, feijão branco, couve portuguesa, lebre e perdizes de caça.

Clítoris


Clítoris
(em qualquer inocência)

Janela do mar para a tempestade e suas ondas
Sol da amêndoa para o dardo e a suas trombetas
Lua do crepúsculo para o que é lascivo e seus caprichos
Carne do impudico para o desejo e seus tumultos
Concubina do pubis para o macho e seus males
Pimenteira da fusão para a alcova e suas tigresas
Harmonia da verticalidade para o carnívoro e seus boquetes
Selo de ejaculação para o criador e suas alucinações
Jóia do orgasmo para flauta e seus dedos
Pleno de existência para a intimidade e seus ritos
Oficina do amor para o martírio e suas brasas
Coração do espasmo para a ejaculação e a lambida
Flor do furor para o sádico e suas mordidas
Moinho de delícias para a pistola e seus tiros
Margarida de Eros para o libidinoso e seus raios
Nicho de enigma para a penetração e os seus raios
Ostra de adoração para o tronco e seus carnavais
Botão de ligar o cacete e seus caprichos
Rosa de beijos para o adorador e seus puros
Grelo de loucura para o bulício e suas dileções
Concha de sedução para o precioso e seus hímens
Escudo de delírio para o que é ruiseñor e seus caprichos.
Topete de ardor para a fantasia e seus nós
Mandolina de calor para a flecha e suas intrigas
Morango de dilúvio para o delirium e o seus tremens
Ninho de culto para o marquês e suas ataduras
Gaveta de ereção para o clavicórdio e suas paixões
Tufo de sortilégio para a adaga e os seus toques.
Tesouro de febre para o falo e suas queimaduras
Cetro da chama para a cerimônia e seus frenesis.

Arrabal, Monte Carmelo 2007 (tradução de Wilson Coelho, Brasil)

Hoje, dia mundial do teatro, Fernando Arrabal estará presente no Barreiro para assistir à peça da sua autoria A Grande Revista do Século XX. A encenação deste musical é de Rui Quintas com música de Gustavo Teixeira.



terça-feira, março 18, 2008

banco direito

DSC_0139.JPG

Se deus se sentasse direito em bancos tortos, viveria com certeza no Parque Vidago, o lugar do mundo com mais bancos em itálico por metro cúbico.

Mas concentremo-nos num poiso em concreto, dos poucos que por ali ainda se encontra vertical. A história, essa sim, reza sinuosa.

A sua memória mais antiga é a de pertencer a um hospital pediátrico, num lugar tão longínquo, mas tão longínquo que dele se perdeu a longitude.

Antes de fazer companhia a águas radioactivas e gasocarbónicas, este banco era um frio espaldar duma cama de ferro. As novas camadas de tinta não deixam adivinhar, mas enquanto membro da ala psiquiátrica, muitas correntes e correias lhe foram presas, impedindo as crianças mais intempestivas de se soltarem e auto-mutilarem.

Os gritos, urros e queixumes ainda lhe corroem o ferro. Aquele era um tempo em que lobotomias eram prática comum e os bisturis cortavam antes de se fazerem perguntas.

Hoje, a vida deste banco, corre-lhe tranquila, mas por vezes ainda acorda da sua realidade termal e deixa-se afogar em pensamentos guturais. Fazer companhia a um leito subterrâneo não se compara a ser o leito de morte de inúmeras crianças. Sim, esta cama infante é fã das ironias do destino e da semântica.

Dizem que as doenças mentais são raras na infância e também muito difíceis de detectar. Este banco reconhece-o e pensa, para com os botões dos raros traseiros que nele se sentam, como as percepções podem ser facilmente confundidas. Muitas vezes um comportamento desviante não é muito distinto dum comportamento infantil. Nada lhe escapa na sua memória bem arrumada, nem mesmo a dor que sentiu quando lhe encurtaram a base, lhe arrancaram o estrado e as molas retorcidas uma a uma.

O carrasco investido de Dr. Frankenstein fora um serralheiro, homem pouco dado à sensibilidade, que ignorou a especificidade daqueles rangidos metálicos, em tudo semelhantes aos guinchos e gemidos das crianças tidas como loucas, durante um tratamento de electrochoques.

Curiosamente essa é a sua única memória feliz, pois foi então que se sentiu pela primeira vez igual às crianças psicóticas em sofrimento, o seu exemplo primordial duma ideia de normalidade.

a que cheira

o verão?
a esteva? a costa alentejana? a pele dourada? ná.
cheira a interior. a terra seca. a erva seca. a mãos secas. a ar seco.
a calções baratos e pernas cruzadas à sobra.
à fisga e à borracha esticada. à caspa da ferida da bicicleta furada.
à terra. à terra. nada ha como a terra.
gostava de ser enterrado na terra. assim como estou.
sem caixão, nem fato de riscas finas.
esse verão eterno, do nosso contentamento.
correr rua abaixo, saco de plástico a bater nas pernas. cheio sabe-se lá do quê.

a língua de cão à espera de uma migalha. a sande de presunto e a primeira mini da vida.
os vestidos de flores. as cuequinhas brancas por instantes entre uma pedalada e outra.
o tanque cheio, os tira-olhos a flutuar à beirinha. alentejano dum raio. perdido para sempre.

à cortiça para fazer barcos. às canas para fazer setas.
ao cabelo amarelo do sol. ao verão do nosso contentamento.
antes que me esqueça.

banco esquerdo

DSC_0140.JPG

Era uma vez um cozinheira velha, muito velha. E ruim, má como as cobras.
Coxeava da perna esquerda, arrastava o pé esquerdo.
Direito, shummm, direito, shummmm.
Nasceu em noite de trovoada, as tias queimavam alecrim à luz dos relâmpagos.
Pais-nossos e avé-marias. Alecrim queimado. Pais-nossos e avé marias.
A mãe esvaiu-se em sangue até à ultima gota, crucifixo gigante pendurado na parede caiada de branco sujo. Filha bastarda do senhor da terra, o grandessíssimo filho-da-puta-que-o-pariu.
Vemos-nos no inferno, diabos o carreguem.
- Não praguejes, filho, que o Senhor não gosta.

Cozinheira de cabelos brancos, sobrancelhas brancas, cara lavada, desinfectada, limpa, pouca vergonha. Alimenta a vida, cozinha o pão que o diabo amassou.
Sofre na pele tudo o pode ser de pior.
Ruim.ruim. Descasca batatas como quem coze a vida em banho-maria.
Reza a Deus. Copo de vidro sobre o pano de algodão cru. Sobre a cabeça. Reza.
Tira o sol da cabeça. A água ferve. Nógados pelo natal.

O pai morreu na guerra. Aquela guerra d'áfrica. Ultramarina. Guarda Nacional Republicana. Fotografia a preto-e-branco semi-desfocada. Blur pré-moderno. Austero, o senhor guarda. Destila veneno. Víbora. Má como as cobras. Devia dizer-lhe vergonhas.

O irmão sozinho. Cresce sabe-se lá como. Solitário esvai-se em sangue na terra. Essa terra esquecida até da guerra. Quem quer guerrear em terra de pão?
A irmã tem filhos, a parideira. Uns melhores, outros piores como ao Senhor aprouver.

Sozinha faz o seu guisado. Tem um filho. Um, único, para queimar a lume brando.
Para ele ter um filho, único, para queimar a fogo lento.
Touca branca, imaculada. Ou era um lenço preto? Apertado. Justo à cabeça?
Como é possível tanta desolação. E vazio. E nada deste mundo sobrevive.
Cozinha, alimenta o lume da cozinha dos outros, alimenta-os, envenena-os até ao tutano.

Senta-se ao sol da tarde do sul. No banco esquerdo. Borda botinhas de lã para crianças tão vazias que nascem sem o saber. Banheira de plástico creme. Beije. Cor de merda como dizia o outro. A criança gorducha esperneia porque não gosta de banho. Não grama a água nem quente nem fria. Nem com molho de tomate, tão bom. Mau como as cobras, também. Filho da sua avó.

Cozinheira velha, ruim. Amo-a como minha.
A colcha de renda já vai grande. Feita no banco esquerdo. Feita pela mão esquerda.
Para estrear à mesa de jantar. No dia do Jantar. No dia do Senhor. Louvado seja.

Um dia a cozinheira velha vai morrer, deixar o raio do banco esquerdo vazio.
Para o herdeiro.
Um dia a cozinheira termina de coser a sua colcha interminável
e o herdeiro vai ter que a estrear na sua mesa de jantar. Vazia, seguramente.
Vazio ele, que saiu da sua mãe duas vezes.
Um dia a cozinheira velha morre e os seus filhos, uma vez e duas vezes ficam orfãos.
Velha mejera que tens o sangue todo. Secas o sol que te alumia. Secas o fruto do teu ventre.
Amo-te como minha.

o truque

o truque é beber.
encharcas-te em álcool.
o álcool liberta os demónios.
depois bebes mais.
os demónios dançam soltos e contentes.
nesse momento é só fotografá-los.
polaroids umas atrás das outras.
parece arte.
dizem-te que é arte. que é bom.
na verdade, dói como tudo.
estás a arrancar a carne e ficas orgulhoso com isso.
até chegar ao osso e morreres

quinta-feira, março 13, 2008

Big in Portugal

Nesta acidental praia lusitana, quando o tema em cima da mesa é o reconhecimento (ou não) de certas qualidades artísticas/profissionais é já costumeiro aguardar-se uma confirmação exterior. Não foram poucas as vezes em que se ouviu um "épá se o Siza anda a fazer projectos lá pós estrangeiros, é capaz de ser porreiro para nos refazer aqui as ruínas!"

Felizmente, muito graças à world wide web, este tipo de processo mental tornou-se mais rápido e o reconhecimento dos valores lusos já não requer tanta papelada e pancadinhas nas costas. Foi o que aconteceu ao designer Nuno Teixeira (por acaso meu amigo) que, graças ao Prémio de Excelência do Michelin Challenge Design 2007, ganho com o projecto do veículo ecológico "MYBUS" e também por causa duma colaboração com a Playstation começou a ser falado por cá.

Reconhecimento é bom, mas não paga nem acalma os vícios e o Nuno continuou a divulgar as suas "cenas", sendo que um desses projectos pôs o mundo dos macmaníacos a delirar, chama-se iView.


Os comentários de um dos muitos blogs que falam desta nova visão para o iMac:

"Many things come to mind when I imagine new features that might be useful on my Mac; a touch screen, integrated 3G connectivity, pop-out remote control, integrated LCD projector, and maybe even a ninja bear defense radar system… I had an incident, let it go. Designer Nuno Teixeira believes every computer should be two faced and with more curves. I dated that girl for a while and it was a hot nightmare, but his “iView” iteration of an Apple’s iMac definitely has a lot more appeal. Taking a cue from the 1950’s CINERAMA wrap-around movie theatre screens, this iMac iMock-up features a giant curved screen(for better orientation to the natural curvature of the human eye) and a second built in LCD screen on the back(useful for students and graphic designer.) While shooting for the stars, Nuno also included two webcams(front and back). The likelihood this will ever be made? 0%, the likelihood I would really like one of these? 100%"

Uma coisa quero desde já vaticinar, pode ser provinciana, se calhar não completamente imparcial, mas “Nuno Teixeira is the new Ora-Ito." Só que melhor ainda."

quarta-feira, março 12, 2008

Pessoa semi-certo, quase errado

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

segunda-feira, março 10, 2008

quoted

"sonhas um sonho tão bem sonhado que fazes com que todos sonhem contigo."
Marriote in "Os Companheiros do Crepúsculo" de F. Bourgeon.

sexta-feira, março 07, 2008

Saul Wars

"If Star Wars was filmed two decades earlier and Saul Bass did the opening title sequence, it "might" look like this...

terça-feira, março 04, 2008

How to Try to Make Sense ou A Poesia e o Disparate

Jan Family é um colectivo que organiza uma espécie de cadáver esquisito que se desafia entre si com vários motes e resulta em interpretações tão disparatadas como poéticas. Dois exemplos.

Como parar o tempo? Resposta: Colar as folhas às árvores impedindo-as de cair.

Como tentar deixar de fazer sentido? Ver foto.