terça-feira, março 18, 2008

a que cheira

o verão?
a esteva? a costa alentejana? a pele dourada? ná.
cheira a interior. a terra seca. a erva seca. a mãos secas. a ar seco.
a calções baratos e pernas cruzadas à sobra.
à fisga e à borracha esticada. à caspa da ferida da bicicleta furada.
à terra. à terra. nada ha como a terra.
gostava de ser enterrado na terra. assim como estou.
sem caixão, nem fato de riscas finas.
esse verão eterno, do nosso contentamento.
correr rua abaixo, saco de plástico a bater nas pernas. cheio sabe-se lá do quê.

a língua de cão à espera de uma migalha. a sande de presunto e a primeira mini da vida.
os vestidos de flores. as cuequinhas brancas por instantes entre uma pedalada e outra.
o tanque cheio, os tira-olhos a flutuar à beirinha. alentejano dum raio. perdido para sempre.

à cortiça para fazer barcos. às canas para fazer setas.
ao cabelo amarelo do sol. ao verão do nosso contentamento.
antes que me esqueça.

Sem comentários: