segunda-feira, dezembro 24, 2007

Toda a gente faz listas

sobre isto e aquilo, o melhor e o pior, pois bem, estas são as minhas.

O pior de 2007

- Os locutores de rádio a dizerem “Deixe-se ficar desse lado”. O que é que eu poderia fazer? Invadir o vosso estúdio e obrigar-vos a tocar a Grândola Vila Morena? Por favor, actualizem os vossos slogans.

- O Cirque du Soleil.

- As pessoas.

- Os intervalos publicitários de 20 minutos.

- A minha memória.

O melhor de 2007

- O Santana Lopes a levantar-se indignado com as interrupções próprias do jornalismo de entretenimento, paradoxalmente uma das suas especialidades.

- The Pillow Man, de Martin McDonagh encenado por Tiago Guedes e interpretado por Gonçalo Waddington, Marco D´Almeida, João Pedro Vaz e Albano Jerónimo.

- Algumas pessoas.

- Viggo Mortensen a vestir (despir?) a pele de um mafioso russo em Eastern Promises de Cronemberg.

- Outras cenas.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Delirium em Las Vegas

Há vários meses esgotado e com uma crítica (excessivamente?) entusiástica em todos os quadrantes da imprensa, da TimeOut à Laurinda Alves, o primeiro espectáculo do Cirque du Soleil em Portugal aparentava ser o mais alto representante do chamado “novo circo”.

Eu, que não tinha sequer pensado em aderir ao entusiasmo colectivo, tive à última hora a oportunidade de, por trinta e cinco euros, partilhar desse sentimento de comunhão, assistindo ao espectáculo Delirium no segundo balcão do pavilhão atlântico.

Nunca vi nada assim! À medida que as minhas pupilas consumiam aquele festim visual o meu cérebro era alimentado por um recorde pessoal de referências. Vejamos ponto por ponto.

1) Céline Dion e amigos

Praticamente todos os diferentes momentos de Delirium tinham uma senhora que alternava com um senhor em cantorias que ficarão para a história da música como “aquelas-canções-patetas-que-glosavam-os-temas-de-sempre-mas-de-uma-forma-
ainda-mais-banal”. Refrões tipo “the world keeps spinning” e outras tiradas do género deram trabalho à sósia de Céline, a um Sr. tipo Michael Bolton mas com pior voz e a um outro mais esporádico cantor com vestes tradicionais do Senegal, responsável por manter a cota de exotismo do espectáculo. Neste caso as letras eram imperceptíveis.

2) Tocarrufar

Quando o quadro era preenchido por exotismo, ambiente de selva tribais e kumbalawés matás, apareciam uns percussionistas de djambés e bem intencionados que me fizeram recordar, entre suspiros, um magnífico concerto GRÁTIS dos Tocarrufar há uns anos no CCB.

3) Acrobatas chineses

Em 5 minutos de um espectáculo daqueles acrobatas chineses que começam a saltar para os ombros uns dos outros ainda nas incubadoras das maternidades, existe mais virtuosismo do que em duas horas de Delirium. O melhor momento, do ponto de vista do circo propriamente dito, foi proporcionado pela responsável dos arcos de hula hoop, mas mesmo assim nada que fique nos anais da história circense.

4) Fellini

Escolha-se uma cena à sorte de praticamente qualquer filme de Fellini, de Amarcord a O Navio e encontra-se mais loucura, mais arrojo e mais criatividade do que em duas horas de Delirium.

Fellini amava o circo, tanto o lado triste e poético como o lado alegre e bufão. Eu só posso julgar o Cirque du Soleil a partir deste espectáculo, mas as soluções apresentadas eram poucas, pobres e repetidas. O amor aqui nutrido dirige-se à velha técnica de encher muito o olho para que não se veja o que está mesmo à frente do nariz: um monarca em pelota.

O ponto de partida e espinha dorsal de Delirium é o sonho de um personagem que é elevado pelo ar com um balão gigante a encimar a sua cabeça, passeando-se pelo espectáculo e pouco mais fazendo do que o pino. Este elemento visual alterna com outros que se elevam do chão imitando saias rodadas que ocupam ora o palco inteiro servindo de tecto falso ora num cantinho servindo como elemento de percussão para os senhores exóticos. O terceiro elemento era uma espécie de casco de drakkar viking partido em dois para onde os personagens saltavam e se punham a olhar para o horizonte. Quando a cantante “Céline” subiu para este elemento aí tive a certeza que a referência à Céline original era na realidade uma assumida homenagem.
Estes três elementos foram misturados e remisturados durante duas horas e nada de novo do ponto de vista cénico se viu no pavilhão atlântico.

5) Circo do Coliseu

Quem já foi ao Circo do Coliseu por altura do Natal, sabe que aquele discorrer de velhas glórias só se mantém porque é um espectáculo comprado pelas grandes empresas para oferecer aos seus colaboradores com filhos pequenos. É um circo deprimente, com animais e acrobatas premiados em 1968, mas mesmo assim, a luta da terceira idade circense pela vida consegue ser mais surpreendente e inspiradora que o badalado Cirque du Soleil.

6) VJ Set dos Chemical Brothers

Ao longo do espectáculo foram as projecções vídeo que mais se destacaram. Dois ecrãs enormes de cada lado do palco que interagiam com as projecções no interior e na cortina que cobria a boca de cena. A integração entre músicas e vídeo, vídeo e elementos cénicos, foi sem dúvida a mais bem conseguida. Mas dêem-me 3 minutos de um concerto dos Chemical Brothers com o seu hipnótico VJ set a acompanhar e depois falamos do que é delírio. (Exemplo recente no concerto na Estação de Comboios do Rossio).

7) David Lynch

A um certo momento o personagem principal diz quase atarantado algo do género: “Everything is so weird here… I’m glad this is just a dream…”

Um dedo mindinho do Sr. Lynch tem mais “weirdness” do que uma vida inteira a ver este Delirium (só mesmo como substituto da pena capital).

8) Cirque Plume

Em 1998, durante a Expo de Lisboa, tive a minha primeira experiência de novo circo, um espectáculo mágico e memorável dum colectivo francês chamado Cirque Plume.
Tinha humor, poesia e virtuosismo num patamar ao qual eu, ingénuo, julgava que o Cirque do Soleil iria chegar ou suplantar. Cirque Plume: peço desculpa pela heresia.

Por falar de humor, o único momento em que ouvi alguém rir-se na sala, aconteceu quando o personagem principal faz o gesto de atirar uma bola para longe, quando afinal a mantém na mão, enganando o personagem nº 2. Ou seja, o momento alto de humor é a piadinha que já todos fizemos com um cão. Abaixo de cão, portanto?

9) Las Vegas

Depois do espectáculo descobri uma sinopse que define Delirium assim: “is a live music concert that pushes the limit of arena performance. Feel the passion of the musicians, singers and dancers driven by the beat of remixed music for Cirque du Soleil.”

Mea culpa portanto, nada de circo, nem de novo. Apenas um concerto bem organizado com passos de dança bem coreografados, piruetas e canções pirosas onde os limites da arena são transpostos para atirar uns balões gigantes para cima da plateia. Paradoxalmente só aqui, quando o Cirque do Soleil interagiu com o público tratando-o como focas, é que se sentiu uma verdadeira emoção na sala.

Se eu fosse um norte-americano obeso e embriagado no descanso das manivelas de uma máquina de jogos de Las Vegas, teria com certeza adorado. O que não percebo é este Delirium Colectivus que entusiasma toda a crítica e hipnotiza o público português ao ponto deste aplaudir de pé o pior espectáculo de circo de que tenho memória. Ou não tenho? Cirque du Soleil? Nunca ouvi falar.

terça-feira, novembro 27, 2007

age maps

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belas, estas fotomontagens, mostram pessoas em criança e depois na fase adulta.
algo de filosófico e de freak-show ao mesmo tempo. vai na volta é disso que se trata.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Branding Segundo Frank Lucas (Marca Visível, Gestor Invisível)

Há uns tempos atrás foi editado um livro de Anthony Schneider intitulado “A Gestão segundo Tony Soprano”. Ao que parece teve sucesso graças aos seus métodos pouco ortodoxos, pragmáticos e inteligentes de gerir. Esta inspiração no modus operandi de uma personagem de ficção, mafiosa e italo-americana deverá ser bastante inspiradora, mas as lições de Frank Lucas, essas já devem estar a ser introduzidas nos manuais escolares do próximo ano, até porque aliam o glamour dos gangsters à fiabilidade de uma história verídica.

Frank Lucas é o personagem principal do último filme de Ridley Scott – American Gangster, baseado em factos reais decorridos durante a Guerra do Vietname e localizados no Harlem. A estratégia de Frank Lucas é a de um puro empreendedor que corta os intermediários, vai directamente aos produtores asiáticos e vende um produto “twice as good and half as cheap”, ou seja, coca e heroína 100% puras. O princípio não é muito diferente do modelo de negócio da multimilionária Ikea: mobiliário barato, bom design e o consumidor leva-o para casa e faz o que quiser com ele. A uma certa altura, Frank dá uma lição de branding a um dealer que fazia revenda do seu produto “Blue Magic” cortando-o com farinha e retirando-lhe a reconhecida pureza.

Ponto 1, a marca:

“Blue Magic is a brand name, like Pepsi.”

Ponto 2, os consumidores vs gestor:

"They don’t know me any more than they know the chairman of General Mills."

Ponto 3, a expectativa:

"When the customer buys Blue Magic they expect a certain level of quality, so when one of his dealers cuts and mixes his own product but sells it under the same name, that’s trademark infringement."

Um gangster a falar de gestão era algo a que já estávamos habituados, mas a defender a consistência de uma marca desta maneira, é definitivamente uma postura que muitas agências de comunicação deveriam copiar.

Ao contrário da marca, o seu gestor deve manter uma postura low profile, especialmente se a marca representar um produto ilícito. E nunca, em caso algum, aparecer em público com sinais exteriores de riqueza ostentatória, vestido, digamos, com um casaco de peles de marta e barrete a condizer, a peça que despoleta a caça ao american gangster no filme de Ridley Scott e o úncio momento em que Frank Lucas comete realmente uma traição à sua essência, de homem aparentemente invisível.

“The loudest man in the room is also the weakest man in the room.”

Entretanto descobri um site produzido pela Interbrand que refere brands cameos, a aparição de marcas em filmes, tema bastante na ordem do dia, no momento em que sairá brevemente uma nova directiva europeia sobre product placement.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Crime & Castigo

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Nada melhor que a ironia dos retratos policiais dos criminosos dos anos 20 terem ganho com o tempo uma qualidade artistica.... mais aqui.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Momento Epifânio da Manhã

Descobri que NUNCA mais vou começar uma história com “Estava de manhã a tomar banho, quando...”

Momento Epifânio da Tarde

Anita descobre o que é o Sarapatel (iguarias preparadas com vísceras de porco, cabrito ou Borrego) e comenta: “QUE NOJOOOOOOOOOOOOOOOOOOO”

Momento Epifânio da Noite

A incauta rapariga registadora com nome de chá, revela os 2 slogans registados por uma determinada marca, quando todos os presentes pertencem a agências que tinham participado no concurso para tentar ganhar essa determinada conta e proposto slogans bem diferentes. Ah, e o resultado do concurso ainda não se sabia oficialmente.

Momento Epifânio da Semana

Sr. Flores (não confundir com Señor Flores) no meio do seu discurso diz a palavra “sexo” ligeiramente mais baixo que as restantes palavras, momento quase tão enternecedor como a écharpe magenta que ostentou grande parte da noite.

Momento Epifânio do Ano

O Sr. Nefasto senta-se na esplanada de uma das duas tascas paredes-meias com a Casa dos Bicos e diz assim:

“Acho que aquela tasca é que era boa..., vim para a concorrência e já estou arrependido.”

Ao que eu faço notar a grandiosidade do comentário:

“Mas isso é a história da tua vida.”

Amigo Alheio

Quatro da manhã do dia de finados, estou com o Sr. Nefasto na parte de trás de um carro da policia que acaba de fazer um troço da Rua Augusta em pleno passeio. No rádio JP Simões canta “Só quem saltasse o puro escuro poderia ver no muro o grande amor / E a cidade / Que venera novidades / Pôs-se às cegas por aí / E foi descambar / Bêbada / Na contramão”.

Não, não fomos apanhados com um copo a mais nem a atentar contra a moral pública. Talvez pior, talvez melhor. Voltando meia hora atrás, estou eu na Bica com demais personagens desta fábula e recebo um chamada. Depois de confirmações de identidade, dizem-me que têm ali à frente os meus documentos, ali na esquadra da Rua da Boavista, onde descobriram o meu cartão da agência com o respectivo nº de telemóvel. Lá me convenci que não era uma piada e desci até à esquadra, lembrando-me da última visão dos meus documentos, sossegados dentro da minha mala de tiracolo recém-comprada numa loja Desigual em Madrid, que por sua vez estava dentro da mala do carro, estacionado ali para os lados do Chiado.
Na mesa à frente de uma simpática mulher polícia, vejo as minhas chaves de casa, um pequeno caderno onde costumo guardar o B.I., carta e papéis de rebuçados, e a minha caixa de óculos de ver, comprada no chinês, com óculos e tudo. Uma rapariga, também assaltada, tinha-os levado até lá.

Entretanto chegam os dois policias de giro que nos guiam até à Rua do Ferragial, onde, pelos vistos, vários carros tinham sido assaltados.

Chegamos ao local do crime e, entre o carro e o passeio, descubro a bolsa onde o meu pai guardava o cachimbo quando fumava e eu costumava esconder o iPod, essa peça com 6 Giga de músicas e alguns trabalhos lá dentro que dava tanto jeito não ir parar a mãos alheias. A porta do lado do lugar do morto está dobrada em cima como papel de pouca gramagem, lá dentro o painel frontal do rádio desprezado em cima do banco. Um dos policias comenta resignado “Ah, isto deve ter sido o Cláudio! É o modus operandi dele e saiu há pouco tempo da prisão.” Fiquei com cara de parvo a olhar para ele, não sei se pela naturalidade do comentário ou por ouvir um policia a utilizar uma expressão em latim.

Abri a mala e, claro, tinha ficado tudo para trás, preciosidades como uma embalagem de óleo do carro, um limpa pára-brisas velho, cadernos de apontamentos de trabalho, tudo ali, menos a minha mala nova, o iPod e os meus óculos escuros Ray-Ban. Os policias não chamaram helicópteros, não calçaram luvas de borracha, não isolaram o perímetro, nem sequer tiraram impressões digitais, aconselharam a fazer uma participação e fizeram a piada “Agora a sua namorada nunca mais lhe empresta o carro”. Pois.
Então, fechei o carro e com o Sr. Nefasto pusemo-nos à procura de outros possíveis frutos do furto inadvertidamente caídos no chão. Procurámos do Museu do Chiado até ao Tóquio, onde ainda tentámos entrar, mas já estava fechado. De volta à Rua do Ferragial ainda farejei mais um bocadinho até que pára um carro ao meu lado cheio de pessoas e o condutor projecta a voz cá para fora “Pois, roubaram os carros todos aqui, não foi!? Uma rapariga que chegou mais cedo viu tudo assaltado!” Então aproximo-me do carro e respondo “sim, assaltaram o meu e fiquei sem um iPod e uns óculos Ray-Ban.” Um rapaz do banco de trás estende-me uma caixa de óculos que abro rapidamente e onde descubro os meus óculos imaculados. Ia entregá-los agora à policia. Obrigado, disse incrédulo, obrigado. Obrigado colega furtada. obrigado Cláudio por me teres deixado os óculos, os documentos e as chaves de casa, obrigado por não teres partido o vidro nem levado o carro para fazer um assalto a um banco, obrigado por me dares mais uma razão para ir de transportes para o bairro e me incentivares a comprar um iPod novo. Vejo-me obrigado a isto tudo.




No meio da nossa busca ao perímetro o Sr. Nefasto tirou-me uma fotografia postada mais abaixo onde eu tiro 2 fotografias a uma rede de obra com néons.
Duas fotos talvez candidatas a moral desta fábula bêbada - “O trabalho de uns é a guerra de outros.”

segunda-feira, novembro 05, 2007

fado

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Mr. Lda andava algures lá fora,
entre um tinto e outro tinto e outro tinto.

Realmente a metafisica aparece nestes momentos.
uns instantes em que tudo faz sentido e nada tem importancia.
Depois os neurónios voltam ao normal, e lá se vai a metafisica,
e o sentido e tudo o resto.

mr.Funesto

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aprecio especialmente essa vossa pose de ballet.
tem simultaneamente algo de gracioso e de desastrado.

praxis

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“…e então, sois homem de valor?”
“claro, não vedes que tenho posses?”
“mas dizei-me vindes p’lo caminho do bem ou p’lo caminho do mal?”
“do mal, caro amigo, do mal”
“as posses apenas levam ao mal, é certo.”
“enquanto nos restar valor, é mister dizimar todas as posses.”
“com que fito, amigo meu?”
“o de libertar espaço, para a queda ser grande e definitiva. Já que nada mais temos a achar.”

A maquina de flippers não está muito boa. Umas vezes dá bolas a mais, outras faz tilt sem mais nem menos.

Tilt sem mais nem menos.
Brindemos a isso. Um acto de valor.

o ferrador

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"se não quer ter aborrecimentos, corra Portugal de lés a lés com meias e collants Ferrador nos pés."

Um reclamo que é meio aviso didáctico, meio ameaça.
Porque é que temos que correr Portugal de lés a lés?  e se não o fizermos temos aborrecimentos?  Podemos acordar no fundo do Tejo, ou do Mondego?
Talvez haja mais nesta velha loja do que deixa adivinhar a sua montra.

fumo.

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TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

butterfly effect

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será que o bater de asas de uma borboleta amarela
que um dia passou pelo meu quintal alugado mudou a minha vida?
ou será que apenas fez cair uma árvore na Amazónia, cuja queda ninguém ouviu?

snooker club

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segunda-feira, outubro 22, 2007

Cliché ma non troppo 2

Cliché ma non troppo



A melhor motivação para continuar a trabalhar em criatividade é a suspeita de que "já tudo foi inventado", seguida da certeza "tudo se pode reinventar".

sexta-feira, outubro 12, 2007

On the cover of a magazine

Apesar de apreciar a opinião do Sr. do Oscar Wilde quando diz que “fashion is a form of ugliness so intolerable that we have to alter it every six months.” tem-se falado pouco de moda por estas bandas e este é o post que vai preencher a lacuna.

Está convencionado desde que existem revistas de moda e tratamento de imagens que a capa deste tipo de revistas terá sempre uma linda mulher, quase nua ou quase vestida, seja a nova coqueluche das modelos ou uma actriz/cantora com alguma forma de sex-appeal.

Está mais que provado que a capa envolverá um fotógrafo da/de moda e respectivos responsáveis por styling, hair stlyling e make-up.

E toda a gente sabe que a capa terá uma dezena de títulos que falarão de temas tão importantes e variados como Malas, Vestidos, Acessórios, Botas, Jeans, What´s Hot, What´s Trendy, What’s New, Lindsay Lohan, Namorados, Homens, Sexo, Dating Tips, Traições, Ménages, Férias, Estilo, Dietas, O Cancro da Mama, Anti-depressivos, Cremes de Beleza, Celebridades, Maquilhagem, Verão, Primavera, Outono e Inverno. Lá dentro, mais de metade do peso será obviamente publicidade.

Certo?

Tudo errado.

E se agora formos para trás do mundo das revistas na tentativa de encontrar um candidato para substituir a mítica editora da Vogue americana, Anna Wintour, a tal que inspirou a criação de Miranda Priestley a editora com o corpo da Meryl Streep em O Diabo Veste Prada?


Ele já existe e pegou ao serviço há cerca de um ano, chama-se Scott King e traz no portfólio um projecto com o premonitório título de “How I’d Sink American Vogue” entre outros projectos para as revistas i-D e Sleazenation.

O primeiro número da era King tinha, como se pode ver, uma capa completamente tipográfica, estava inteiramente dedicada ao tema “anti-guerra” e era grátis.

O número de Maio tinha o popular título “635 Poor People Upside Down”.



Em Julho a revista não tinha um único anúncio e em vez de sacos de praia ou chapéus de sol oferecia um clipe anticapitalismo.



Brevemente voará para as bancas o número de Novembro, onde mais uma vez figura uma bela modelo, neste caso um belo exemplar da espécie Brotogeris versicolorus chiriri que defende para si um estatuto de deusa.





Chegou a altura de confessar: nunca me senti tão em sintonia com o mundo da moda.

segunda-feira, outubro 08, 2007

De novo

As páginas levam-te a novas páginas, a novos cadernos, a um novo desenhar do caminho que carregas na tua lombada. Umas vezes mais rasurado, outras mais seguro, simples e icónico, como a popa do Tintin. Os caminhos são assim, por vezes tortuosos, por vezes simples e a direito, curiosamente esta costuma ser a parte mais soporífera.

A máquina fotográfica é mais vampiresca e por vezes rebenta de tantas imagens repetidas sem grandes planos no momento de capturar as suas presas. É assim que os caçadores funcionam, ficando depois com uma arca frigorífica cheia de lebres e perdizes que não conseguem consumir nem lamentar. Mas felizmente (além do luar) há sempre um novo enquadramento, uma nova nuvem na composição, um novo erro que descobre novidade onde aparentemente só havia cópia.

As decisões são sempre perdas e dor, mas também conquista de novos territórios onde podemos fazer um chichi, tirar uma foto ou fazer um desenho, como quem diz, olha ali atrás fiz isto, deixei um bocadinho, um ventrículo, uma orelha ou um pouco da minha capacidade de acreditar. Mas volta a crescer, voltas-te a apaixonar e voltas a fazer parvoíces como senão houvesse ontem.

Viras as costas, mas elas ficaram lá, dás mais uns passos, pontapeias mais uns pedregulhos e descobres as ligações entre os actos ou, se for preciso, inventa-as porque a tua vida é a tua ficção. É assim que eu a vejo, não está predestinada, não está profetizada, está escrita por ti, aqui e agora, da única maneira que se escreve em viagem: em cima do joelho.

E claro que rebentas, rebentas de todas as formas escatológicas, ilógicas e metafóricas possíveis, rebentas de tristeza e de felicidade, porque os grandes momentos, de clarividência duram um nanosegundo. O divino, a ser alguma coisa, é isso, o momento em que (te) descobres em algo de novo que esteve sempre à tua frente, pode ser numa sinistra gárgula do Sacré Couer, numa lágrima sem razão, num retrato de infância com aquela camisola de lã horrível, numa amizade que se torna paixão ou no momento em que te apercebes da grande asneira onde te enfiaste de cabeça, tronco e membros. É então que partes para o próximo equívoco.

Vais mudando o caminho que pisas, terra batida, relva, piso sintético, até que um dia, quando eu e tu formos velhos o suficiente talvez seja só isso que conquistámos:
a certeza que os nosso melhores momentos só se fizeram graças a uma monumental dose de ingenuidade.

Faz-me um favor, mantém-te fresco, ridículo, sôfrego e trôpego, continua nesse percurso que é só teu, onde seguramente nos vamos encontrar nas estações de serviço mais empoeiradas. Reclama e vocifera contra os buracos no caminho, faz uso do contraditório, muda o que tiveres a mudar, rebenta com o que for preciso, dinamita caminhos e os ramais de acesso. E depois volta, de novo.

Peço desculpa pelo tom um pouco evangelizador, mas voltei agora de uma viagem de cinco dias por Madrid que me encheu de novo e de ingenuidade. Mas sobre este tema falará melhor um senhor que todos gostamos aqui neste canto nefasto, funesto e limitado:

Certainly one advantage of 'youth' in the arts is ignorance, to know so little as to be fearless. To not grasp that certain things one may dream up are actually impossible to do. When I finished Apocalypse Now I of course thought 'If I knew then what I know now, I wouldn't have even tried..." Certainly old age brings 'experience' and that is not to be discounted, but in the arts, fearlessness is a more desirable genie than experience. Fearlessness is cousin to innovation, whereas experience can be the parent of fear. Once you've fallen out of the tree a few times; felt the pain of those bruised knees and suffered the embarrassment of the inevitable ridicule —it's much more difficult to be as daring in what you do, or even what you attempt to do.


F. F. Coppola

(aconselho a leitura do restante texto onde Coppola discorre sobre a criatividade dos criadores na sua juventude in secção “Diary” presente no site do seu novo filme - Youth Without Youth).

terça-feira, outubro 02, 2007

e o caminho?

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as páginas cheias de desenhos que não levam a lado nenhum.
a máquina cheia de projectos que não trazem alegria nenhuma.
as decisões estranhas que não se sabe porque se tomam.
a tristeza e a desilusão.
viras as costas a coisas que nem sabes o que são.
só vais parar quando rebentares.
rebenta. rebenta. rebenta.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Memorabilia




Viagens relativamente recentes, a Paris, onde desenhei, entre outros personagens, um americano a folhear livros na Shakespeare & Co. e a Trois Vallées num desenho do grande ilustrador João Paulo que captou a essência de 4 aventureiros em busca do "bom pacote" e da boa Raclette. E um Ai! para aquele "vin chaud" reparador, a melhor mezinha para esquecer um corpo dorido.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Holyday Pics


Chama-se Aníbal Bandeira, faz cata-ventos e funilaria numa das margens do rião Gilão, em Tavira.












E assim inesperadamente, depois de um belo arroz de polvo realizado pelo mestre Salavisa, iluminado pelo luar e acompanhado pelo movimento das osgas na parede, descobri que a Nokia, em tempos, teve um telemóvel do tamanho de um frigorífico.





Mais um belo exemplo da ingénua e original contrafacção, desta feita sendo a Cami a elogiada.









M.I.A. em Paredes de Coura, o melhor momento da única noite em que espreitei este festival. Memorável também, a pior zona V.I.P. da história das zonas V.I.P.'s, houve Heineken e limoncello para beber, 3 ou 4 cadeiras e um caldo verde para comer.






Durante a exploração nortenha, descobri em Valença do Minho uma loja de desporto que possuía este singelo santuário.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Vulgarism

O "ismo" que nos faltava, para os tempos que escorrem.
Vulgar a esmagadora maioria das misturas design-arte que incansavelmente nos assaltam .
Vulgar a atitude de moda, de pseudo-conceito, de modernidade.
Tábua rasa, ponto zero da memória.
Como se a herança de décadas de prática e pensamento não existisse.
O design transformado em decoração, as ilustrações vazias de conteúdo e significado, meras colagens apresadas de temas globalmente atraentes apresentadas como design experimental.
Vulgar floreado e artificio.
Dediquei os últimos dias a uma procura exaustiva nas dezenas de revistas on-line de arte, design, arquitectura, moda e afins, coisas realmente novas, com significado e razão de ser, e não encontrei quase nada fora do vulgarism, quase nada para além do onanismo-estético-técnico.

Sinto-me impressionantemente vulgarizado.

segunda-feira, agosto 06, 2007

# caderno

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por fim

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um dia de folga para desenhar descansado.

Algures

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...num sitio onde o tempo não avança.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Fuck the pain away

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Encontrei o senhor cujas fotografias contêm as pessoas que sempre quis desenhar.
Sacana, eu sabia que andavas por ai...

Natureza Viva

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Estou maravilhado com a poética simplicidade metaforica desta fotografia.
Quando ultrapassar esse maravilhamento, vou escrever um texto cheio e belo
sobre o tema. Mas ainda não será hoje.

Uma questão de princípio

- Tem o Público, por favor?
- Não.
- Já não tem ou ainda não tem?
- Não tenho.

(Diálogo existencialista tido hoje às 9 da manhã)

Uma classe

Simpsons The Movie é uma ode à ironia ao sarcasmo e à crítica social. Quando acabou só queria voltar ao início para saborear com mais olhos cada pormenor.

quarta-feira, agosto 01, 2007

O lambidinho




Eu não gosto de pintura lambidinha, não gosto de pintura feita por cima de fotografias e provavelmente não gostaria de Terry Rodgers se alguma vez o conhecesse. Mas esta pintura tem algo que me apela (não são as maminhas ao léu!) e não sei bem o quê. Talvez seja o falso glamour de aparentes festas de deboche em contraste com posições corriqueiras de mulheres que se levantam ou que se sentam como se nada fosse, talvez seja a repetição das encenações e dos modelos que parecem pensar na importância dos buracos negros. Ou talvez esteja a inventar um "je ne sais quoi" só para justificar uma inexistente mas salutar cota de maminhas ao léu neste negro blog.

terça-feira, julho 24, 2007

Penny or a Smile

Penny or a SmileAre you really 17?
Yes
Have you taken any schooling or special courses related to photography?
Nope

Assim começa uma série de perguntas a Joey, que vive em Lindsay, Canadá, mas que já tem carreira internacional.
Vale a pena dar uma vista de olhos no portfólio, especialmente em Homeless. Trabalho de gente grande.

Señor Flores em Lisboa


Estes desenhos deixam-me verde alface.

segunda-feira, julho 23, 2007

Summer - 0 / Really Stupid Weather - 1


Fotos de Andrew Eccles para o New York Times. Talvez com a ajuda de Scarlett e Woody o Verão ganhe ao tempo "indecinzento" com um belo matchpoint.

quinta-feira, julho 19, 2007

Escrever para falar

"Escrevo para poder corrigir o que digo." - Enrique Vila-Matas, ontem na TSF

quarta-feira, julho 18, 2007

I Wonder - The Art of Sexual Innuendo

A categoria filme noir é reconhecida, acima de tudo, pela crueza e sujidade dos diálogos. Este é retirado de Double Indemnity, filme de 1944 de Billy Wilder, com Fred MacMurray (Neff), Barbara Stanwyck (Phyllis) e Edward G. Robinson (Keyes).

Neff, um angariador de seguros dirige-se a casa de um cliente para tratar da renovação de um seguro automóvel. Em vez de apanhar o cliente, apanha a mulher do mesmo acabada de sair do banho e enrolada numa toalha. Depois de um primeiro jogo de palavras sobre estar “fully covered” Phyllis (já vestida) e Neff têm um dialogo aparentemente inocente sobre apólices até que a conversa vai parar a uma pulseira que Phyllis ostenta no tornozelo.

Neff: I wish you'd tell me what's engraved on that anklet.
Phyllis: Just my name.
Neff: As for instance?
Phyllis: Phyllis.
Neff: Phyllis, huh. I think I like that.
Phyllis: But you're not sure.
Neff: I'd have to drive it around the block a couple of times.
Phyllis: Mr. Neff, why don't you drop by tomorrow evening around 8:30? He'll be in then.
Neff: Who?
Phyllis: My husband. You were anxious to talk to him, weren't you?
Neff: Yeah, I was. But I'm sort of getting over the idea, if you know what I mean.
Phyllis: There's a speed limit in this state, Mr. Neff, 45 miles an hour.
Neff: How fast was I going, Officer?
Phyllis: I'd say around 90.
Neff: Suppose you get down off your motorcycle and give me a ticket.
Phyllis: Suppose I let you off with a warning this time.
Neff: Suppose it doesn't take.
Phyllis: Suppose I have to whack you over the knuckles.
Neff: Suppose I bust out crying and put my head on your shoulder.
Phyllis: Suppose you try putting it on my husband's shoulder.
Neff: That tears it... (He takes his hat and briefcase after his advances are coldly rebuffed.) 8:30 tomorrow evening, then.
Phyllis: That's what I suggested.
Neff: You'll be here too?
Phyllis: I guess so. I usually am.
Neff: Same chair, same perfume, same anklet?
Phyllis: I wonder if I know what you mean.
Neff: (Opening the entrance door.) I wonder if you wonder.

segunda-feira, julho 16, 2007

Tese de Mestrado #1

"O Surgimento do Tapume-Tuning e a Influência da Luz Inferior no Processo de Procriaçãõ das Tainhas do Tejo ou As Novas Formas de Varrer para Debaixo do Tapete"

Agora que Lisboa está na boca de toda a gente, avanço a primeira das minhas propostas para teses de mestrado que nunca farei. Esta, a propósito de uns estranhos tapumes com luz azul por baixo que parecem ter surgido para esconder as obras que destruíram o Cais das Colunas em frente à Praça do Comércio. Porquê? Segundo a nova vereadora Helena Roseta para que os senhores que vieram a Lisboa para a tomada de posse de Portugal à frente dos assuntos europeus não ficarem mal impressionados.

segunda-feira, julho 09, 2007

Por causa dos chineses

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Por causa do Museu de Sintra, por causa do CCB, por causa dos anúncios e das acções do Millennium BCP, por causa da OPA ao Benfica e agora por causa do Jardim do Oriente, Joe Berardo continua a ser uma notícia constante. É esta figura, misto de Berlusconi, Paris Hilton e Calouste Gulbenkian, o responsável pela construção do jardim oriental/budista que está a surgir entre o Bombarral e o Cadaval, na Quinta dos Loridos.
O espaço de 35 hectares, terá, no dia de abertura e segundo a Gazeta das Caldas, 6 mil toneladas de estátuas. Há duas semanas atrás eram já muitos os olhos rasgados e não deixava de ser bizarro estar em plena Estremadura, terra de festivais vinícolas, da Feira da Pêra Rocha e das Grutas da Lapa do Suão e das Pulgas, estar a conviver com gigantes estátuas de Shiva e de Buda.

“As obras ainda estão quase no início e até Dezembro, quando estiverem concluídas, o número de estátuas será quatro vezes maior do que o actual. Na região, a Quinta dos Loridos já é local de peregrinação desde que passou a palavra que ali estão a construir um tão estranho jardim. Aos fins-de-semana vão famílias em romaria visitar as obras e tirar fotografias às estátuas. Em declarações à Gazeta das Caldas, (Joe Berardo) diz que teve a ideia de construir este jardim quando soube, indignado, da destruição das estátuas do Buda pelos talibans no Afeganistão. “É uma homenagem aos budas que foram bombardeados e será o maior jardim do Oriente da Europa”, disse.”

Ao que parece as estátuas foram todas compradas à China e algumas delas foram esculpidas num muito viajado granito português.