segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Kamel para el sexo (muy) fuerte.

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Depois de dois desgostos publicitáriobancarios nada como recordar a época

de oiro dos reclames. Onde coisas como esta não eram politicamente incorrectas.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O Sacré Coeur são as gárgulas

O Louvre são os japoneses


Aliás foi a televisão japonesa que pagou a nova sala onde está a Mona Lisa.

O Louvre são os seguranças

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Nem bons ventos




A minha atávica condição de cidadão lusitano resulta num comportamento paradoxal: retrai-me e impele-me ao mesmo tempo. Retrai-me porque me obriga a ignorar o que se passa à minha volta (laissez-faire, laissez-passer deveria ser uma expressão lusa) e impele-me para dizer mal de tudo e todos, essa fácil, mas também nobre tarefa, elevada ao expoente mais cáustico pelo saudoso Eça. Posto isto, parto para a matéria que me arrastou até aqui, obrigando os meus pobres olhos a lacrimejarem sangue cada vez que ligo a televisão: o novo anúncio do Millennium BCP.

Paulo Pires irrompe de smoking numa festa pequeno-burguesa a tentar armar au finesse para impressionar suburbanos desejosos de escalada social. O dono da casa, pergunta atónito, num acting fabuloso do actor Ricardo Carriço: “Porque interrompeu a minha festa?”
Paulo Pires despeja todas as vantagens de ser um Cliente Prestige (será que o cartão derrama petróleo?) e remata com “e oferecemos-lhe esta caneta Montblanc como símbolo do nosso compromisso”.

Passar prestígio e vantagens exclusivas com esta encenação tão, mas tão comezinha, pobrezinha, denunciada, falsa e oca é um insulto para todos os clientes Millennium, onde infelizmente me incluo, é um tiro de bazuca no pé da própria instituição bancária, uma mancha na carreira dos candidatos a actores e uma certidão de óbito para a agência que ousa assinar esta pobre campanha nova-rica. Depois deste anúncio entrar na minha vida, reuni os destroços do meu queixo caído e da cegueira momentânea e tentei seguir em frente como se nada fosse.

Até que li no Sol online uma notícia que me voltou a congestionar os olhos e o entendimento, o artigo chamava-se “BCP 'recorre' a James Bond”, e o seu conteúdo tentou convencer-me que toda a cena está envolvida num ambiente de glamour, luxo, mistério e sedução que assumem uma certa reminiscência de James Bond.
Desculpem? O grande feature film foi filmado no Hotel Pestana Palace, e este deve ser mesmo o único ponto de contacto com o agente secreto, o facto de 007 também já ter estado em hotéis.

Na esclarecedora notícia fiquei ainda a saber que Paulo Pires é considerado o agente Millennium, que a sua missão é apresentar a proposta «compromisso de ouro» ao cliente Prestige e que a tal caneta Montblanc tem um belo valor de 225 euros. Sinceramente preferia comprar 300 Bics, mas os espanhóis da Bassat Ogilvy, autores da campanha e provavelmente da notícia ao El Sol, não me vieram perguntar nada. Concluo informando que a minha conta bancária está a partir deste momento a concurso.

Nem bons casamentos

Arrancou há umas semanas a campanha institucional do lançamento do novo banco ibérico Santander Totta. Desta vez foi a Ogilvy local que tratou de assinar as peças, inundando televisão, imprensa, rádio e outdoors com vermelho e ausência de ideias.
Parece que a escolha de maus actores para fazer campanhas a bancos se está a generalizar, Pedro Granger, um senhor que costuma fazer de mau nas telenovelas e mais uns quantas meninas Morango com Açúcar dão a cara e o dedo pela causa. E qual é a causa? O meu banco foi eleito em 2006 o melhor banco de Portugal, o meu banco isto e aquilo, grandes promessas, grandes headlines que marcam com toda a certeza a indiferença. Mas lá estou eu, chatinho, a não conseguir passar completamente ao lado e proponho aquele dedinho a apontar ao coração (ou à maminha, conforme a foto) para o grande prémio do Festival do Cano. As páginas que poderiam ser escritas só à conta daquele gesto tão cheio de significados... Existe pelo menos uma certeza, aquele “key-visual” deve andar a derreter muitos corações de clientes de outros bancos que adorariam falar do seu banco com um indicador tão querido e apaixonado. No anúncio TV a dobragem está ao nível das melhores novelas venezuelanas e o melhor mesmo é aquele movimento copiado do videoclip dos White Stripes – Seven Nation Army. Se as coisas vão continuar neste nível, espero que de Espanha morram todos as agências e clientes que cá vêm meter o dedo.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Brand new Brand

A Marca é o novo preto.
É a Marca, estúpido!

Tudo é brand, todos são especialistas em marcas, em potenciar, em desenvolver, em focalizar, em conceber, em multiplicar, em adubar, em embalar as marcas.
Conferências sobre marcas, pós-graduações, mestrados, doutoramentos, workshops e seminários.
Todas as empresas tratam de marcas, só de marcas, quem não faz marcas não é nada.

E tu jovem, não sabes de marcas? O que julgas que importa na vida?

Os países são marcas, os políticos são marcas, os desportistas são marcas e entre eles os futebolistas são o paradigma das marcas.
Mas quem faz a marca Cristiano Ronaldo? Os especialistas em fazer e acontecer marcas? Os visionários em tendências de marca?

Ou será - por um grande azar - que é o próprio, pelo seu talento e trabalho?
Como é que uma marca tão poderosa se presta a anúncios tão pobres, e mesmo assim continua a ser um marca de milhões?
Querem lá ver que é mais importante o que acontece na vida real do que aquilo que se cria no freehand?

E fará diferença que marcas com produtos diferentes usem os mesmos estratagemas de comunicação?
As palavras-chave, os lugares-comuns, os moods, os valores, e por ai fora repetem-se até à náusea.

Pelos vistos as marcas-produto continuam a precisar - agora como à 50 anos atrás - de marcas-homem que as vendam, que lhes emprestem os seus talentos e atributos, para fugir à verdade verdadeira de que o que importa é facturar.
Que por baixo de uma cósmética de valores e atributos mais centrados que nunca no emocional/aspiracional/poético-estético, existe uma obsolêscencia premeditada verdadeiramente vertiginosa.

O sr. Raymond Loewy é que sabia. Styling. Continuamos em círculos à volta dele.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

A liberalização

Portugal acordou diferente, 59 por cento dos votantes no referendo de ontem aprovaram a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas e, como profetizavam os defensores do Não, esta decisão desencadeou uma descontrolada liberalização do aborto.

Hospital Dona Maria, Hospital da Estefânia e várias clínicas de Lisboa encheram logo às primeiras horas da manhã com centenas de mulheres ansiosas por fazer o seu aborto livre. De nada serviram as explicações de que a lei teria primeiro de passar pelos trâmites legais. Ninguém arredou pé. Ainda agora, em clínicas de todo o país, do Minho ao Algarve, milhares de mulheres e até homens, esperam pela sua oportunidade de apanhar as matinés do aborto. Há relatos de várias mulheres que tiraram senha no atendimento da TMN, Optimus, Vodafone e lojas Phonehouse, à espera que lhes interrompessem a gravidez.

Ao que parece as comparações entre a facilidade de abortar e a de comprar um telemóvel se o Sim ganhasse, tiveram os seus frutos na confusão reinante. Nada fazia prever este cenário (apenas os clarividentes defensores do Não) e vários donos de restaurantes estão a pensar entrar no mercado oferecendo abortos nos seus menus do dia. Este é sem dúvida o fim do mundo.

domingo, fevereiro 04, 2007

De homens e Amendoins

Esta história dos amendoins levou-me a pensar onde, em que momento da minha vida ficou o gosto pelos amendoins cristalizado. Em que altura o cérebro decidiu fazer uma espécie de bookmark e definiu que de ali em diante todos os amendoins que comesse seriam implacavelmente comparados com aqueles escolhidos como sendo Os Amendoins.



Esse momento foi numas festas de verão da minha terra. Deveria ter por volta de 10 ou 11 anos e bebia as minhas primeiras minis, pagas com dinheiro que saia do meu bolso não do bolso do meu pai. Fazíamos tempo antes da tourada à vara-larga (touradas onde em vez de toiros entram vacas e em vez de toureiros entram os jovens da terra, meio bêbados, claro).



Estávamos sentados na primeira mesa da tasca do Dimas, esse velho pedófilo e exibicionista que mais se preocupava em espreitar as gaiatas que vinham da escola e lá paravam para comprar gelados de groselha do que em tratar de atender os fregueses. O sol do fim de tarde de Agosto, que é o que cheira melhor do todo o ano, porque cheira a planície madura, fazia brilhar as quatro cadeiras de patas ferrugentas e encostos de platex e a mesa de fórmica vermelha completamente riscada pelas décadas de dominó e sueca que sofreu.

Quase tão bom como as minis com amendoins do Dimas, era atirar com as pedras do dominó e as cartas espanholas contra o tampo da mesa. "Carta batida não é recolhida" diz-se e com razão. São mesmo batidas à séria.



Nas paredes velhas fotografias de equipas do Sporting que já tinham morrido quando eu nasci. Numa terra onde quase todos são do Benfica era engraçado que a melhor tasca fosse do Sporting.



É a soma destes cheiros e brilhos que definiu o meu standard de amendoins, e minis, e tascas.



Que será feito do velho Dimas, esse biltre perverso?

Já não entro na tasca há onze anos, não deverei entrar nunca mais.

Passo à porta de três em três semanas, aceno para os meus conhecidos de infância, e para os velhos que já eram velhos quando eu lá ia, e que nem sequer vão ser pó quando eu for velho.

Mas não entro.

E se os amendoins já não tiverem o mesmo sabor?

A normalização de todas as coisas

Os designers temos normalmente gosto pelas normas, pelos ISOs e DINs e
tudo o resto que está inerente a coisas tão agradáveis como a modularidade, a
economia de custos e a sustentabilidade.

Os engenheiros gostam ainda mais das normas e para eles o imprevisível
que acontece com tudo o que se escapa à norma é defeito a evitar a todo custo.

Tudo isto é muito bonito e está muito bem e o Greenpeace até concorda,
mas a normalização tem efeitos terríveis em muitas coisas,e entre todas
elas os robalos e as douradas calibrados para a justa medida de uma
refeição não são das piores.

Os amendoins, esses sim são a verdadeira desgraça da normalização!
A olho nu tudo parecia correcto, a mini gelada e bebida pela garrafa, o
pacote de amendoins de 500gr - sim 500gr, não 490 ou 514 como acontecia
antigamente no tempo do imprevisivél - e o jornal de domingo que como
se sabe com a luz de fim de tarde é completamente ilegível e apenas
conseguimos dar conta das minis e dos amendoins.

Ora, as coisas pareciam estar bem mas não estavam. Subtilmente um desconforto,
um aborrecimento, um fastio foi-se instalando. Que diabo!

Até que num clarão de clarividência percebi o motivo do desapontamento que nos últimos
anos os amendoins me provocam. Não existem amendoins de 1 ou 3
unidades. Apenas amendoins com capacidade para 2 unidades. Nem sequer
como acontecia, aparece uma embalagem de 2 unidades mas com grandes diferenças de diâmetros.
Nada. Todos iguais, ou melhor, todos enganadoramente diferentes, porque
as suas supostas diferenças não são suficientes para serem considerados
diferentes.

Com toda a atenção dei uma volta às minhas 410gr (sim, uma conta rápida
das unidades calibradas permite estabelecer que até aquele momento
comera 90gr.) e por fim encontrei um único outsider. Um amendoim de uma
unidade. Um que escapou a norma ISO4006 que regulamenta peso,
curvatura, concêntricidade, e tolerâncias admissíveis nos amendoins
calibre 50/60. Há! Um amendoim livre das ataduras normativas, que com a
sua diferença acentuava ainda mais a semelhança dos seus pseudo-irmãos.

Comi-o de imediato com enorme satisfação.

Agora sim podia continuar, de volta às minhas 403gr de amendois
descansado, sabendo que existia uma possibilidade - embora remota - de
encontrar amendoins fora da norma, e essa possibilidade devolvia-me o
gosto perdido em tantos amendoins normalizados.