domingo, fevereiro 04, 2007

A normalização de todas as coisas

Os designers temos normalmente gosto pelas normas, pelos ISOs e DINs e
tudo o resto que está inerente a coisas tão agradáveis como a modularidade, a
economia de custos e a sustentabilidade.

Os engenheiros gostam ainda mais das normas e para eles o imprevisível
que acontece com tudo o que se escapa à norma é defeito a evitar a todo custo.

Tudo isto é muito bonito e está muito bem e o Greenpeace até concorda,
mas a normalização tem efeitos terríveis em muitas coisas,e entre todas
elas os robalos e as douradas calibrados para a justa medida de uma
refeição não são das piores.

Os amendoins, esses sim são a verdadeira desgraça da normalização!
A olho nu tudo parecia correcto, a mini gelada e bebida pela garrafa, o
pacote de amendoins de 500gr - sim 500gr, não 490 ou 514 como acontecia
antigamente no tempo do imprevisivél - e o jornal de domingo que como
se sabe com a luz de fim de tarde é completamente ilegível e apenas
conseguimos dar conta das minis e dos amendoins.

Ora, as coisas pareciam estar bem mas não estavam. Subtilmente um desconforto,
um aborrecimento, um fastio foi-se instalando. Que diabo!

Até que num clarão de clarividência percebi o motivo do desapontamento que nos últimos
anos os amendoins me provocam. Não existem amendoins de 1 ou 3
unidades. Apenas amendoins com capacidade para 2 unidades. Nem sequer
como acontecia, aparece uma embalagem de 2 unidades mas com grandes diferenças de diâmetros.
Nada. Todos iguais, ou melhor, todos enganadoramente diferentes, porque
as suas supostas diferenças não são suficientes para serem considerados
diferentes.

Com toda a atenção dei uma volta às minhas 410gr (sim, uma conta rápida
das unidades calibradas permite estabelecer que até aquele momento
comera 90gr.) e por fim encontrei um único outsider. Um amendoim de uma
unidade. Um que escapou a norma ISO4006 que regulamenta peso,
curvatura, concêntricidade, e tolerâncias admissíveis nos amendoins
calibre 50/60. Há! Um amendoim livre das ataduras normativas, que com a
sua diferença acentuava ainda mais a semelhança dos seus pseudo-irmãos.

Comi-o de imediato com enorme satisfação.

Agora sim podia continuar, de volta às minhas 403gr de amendois
descansado, sabendo que existia uma possibilidade - embora remota - de
encontrar amendoins fora da norma, e essa possibilidade devolvia-me o
gosto perdido em tantos amendoins normalizados.

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