segunda-feira, dezembro 04, 2006

Fídelio

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Os amigos têm um tempo. As relações têm um tempo.

Um tempo de avanço, de acontecimento.

Depois entram num espaço de hibernação, de onde são recuperadas de quando em vez, para lhes sacudirmos o pó. Nestas alturas o passado e o futuro trocam de lugar, e as coisas prolongam-se ao contrário, re-misturando o que já foi. Uma e outra vez, de muitas formas, mas sempre da mesma forma.

E por muitas coisas que tenham entretanto acontecido, por muito que tenhamos mudado, nestes encontros as cicatrizes nunca são visíveis, ou se o são ninguém as vê.

Tudo é perdoado durante um espaço suspenso, fora do tempo.

Depois esse intervalo termina, normalmente quando o vinho acaba e a manhã já encandeia, e tudo volta ao seu lugar, as marcas são outra vez evidentes e retomamos a bagagem deixada à porta.

Até à próxima vez. Se a houver.





2 comentários:

O Despachante disse...

Morreu um poeta, mas nasceu outro.

Anónimo disse...

Gosto de bagagens à porta. Gosto de entrar em espaços que são intocáveis e existir numa dimensão que só é conhecida de quem lá está.
São encontros de almas, não de vidas.
São perfeitos porque finitos, são encantadores porque efémeros, são um lampejo do que as relações deviam realmente ser.
Momentos em que só queremos dar aos outros o melhor de nós.