quarta-feira, maio 21, 2008

One country, one photo

Esta foto, aparentemente anónima no meio das 500 tiradas ao longo de duas semanas de férias na Argentina, resumem aquele país e aquela cultura.

Então passo à exposição.

Evita, figura matriarcal algo dúbia, alma penada presente tanto na memorabilia argentina como na política actual, numa altura em que a sua sucessora simbólica, a presidente Cristina Kirschner se vai revezando com o seu marido no que toca a exercer o poder, num momento em que se questiona o Peronismo enquanto política, num panorama em que a maior parte das figuras públicas femininas argentinas, devido ao número de plásticas, mais parecem travestis, figuras com a autenticidade própria dos bonecos de cera.

Maradona, el Pibe, um miúdo graúdo saído do bairro pobre da Boca, outra figura dúbia, um deus com pés de barro, fiéis e igreja respectiva. Figura incontornável no futebol e na vida dos argentinos, presente em todas as áreas da cultura, em charutos e pacotes de vinho.

Carlos Gardel, outra figura incontornável e personagem algo obscura, até o seu local de nascimento é desconhecido. França? Uruguai? Costumava dizer: "Nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade." Gardel será sempre sinónimo de Tango, música que para desgosto dos argentinos, nasceu no Uruguai. Imitado, elogiado e pintado milhares de vezes pelos maestros fileteadores, Carlos Gardel é como os buracos no passeio, estamos sempre a tropeçar nele.

Fangio, automobilista de Grandes Prémios, ganhou cinco títulos mundiais já distantes (1951, 1954, 1955, 1956 e 1957) mas continua a ser o símbolo do acelera. De tal modo que em Buenos Aires todos conduzem à Fangio, com guinadas de volante, ultrapassagens pelos dois lados e curvas apertadas de fazer corar qualquer piloto profissional. Andar de Táxi na capital argentina tem tanto de montanha como de roleta russa.

E no interior destas figuras cintadas, temos os charutos também eles simbólicos: artesanais, com folha exterior cubana e tabaco argentino. Primeiro a artesania, movimento forte na Argentina, com feiras e mercados artesanais a subsistirem em cada canto e a arte de fazer à mão ainda longe de se perder. Em segundo lugar a miscenização, habitual na Argentina, país de imigrantes, onde a cada esquina nos oferecem pratos italianos como sendo característicos da culinária local (desculpem-nos, mas preferimos o Bife de chorizo a raviolis, milanezas e mini-pizzas). E os alfajores? Biscoito de dulce de leche, tipicamente argentino, cuja marca mais emblemática se chama Havanna. Charutos, Alfajores e a difusão de imagens daquela que poderia ser outra figura presente ao lado de Fangio - El Che - apontam para um certo fascínio por Cuba, só para provar mais uma vez esta contante miscenização, entre países vizinhos, entre a Argentina e a Europa, entre índios em estado puro e personagens mutantes saídas das mãos de um cirurgião plástico.

E quem fumaria tudo isto? Borges, o mítico.

2 comentários:

Anónimo disse...

Habrá que ir a ver la película de Kusturica!!!

Anónimo disse...

Adorei a prosa. Os teus olhos e a tua sensibilidade fizeram de ti um homem cheiíssimo de personalidade.Não dizes nada como toda a gente...
Vou guardar o texto na pasta das coisas especiais e raras Quero mais...