quarta-feira, março 04, 2009

Hopelessness

O mais revolucionário em Revolutionary Road, de Sam Mendes, é o facto de ser um filme indissociável da história do cinema e nunca o esconder. Como? Através de referências e simbolismos bem distribuídos pelo ecrã ao longo da história. Winslet e DiCaprio - casal-símbolo do amor incondicional que viverá para além de todos os icebergs, vive agora a frieza de uma vida vazia a dois; o eterno ambiente suburbano americano - pano de fundo simbólico que passa de filme para filme, de época para época, passando pelas casas coloridas de “Eduardo Mãos de Tesoura”, pelo saco de plástico de “Beleza Americana” e, claro, por Kate Winslet em “Pecados Íntimos”; a traição – enquanto sintoma de “tenho-aqui-um-vazio-e-vou-preenchê-lo-lá-fora”. Simbolismos que vivem da história do cinema e dos casais do ecrã, o que nos leva obrigatoriamente a Marrocos.

Se em “Casablanca” a frase Teremos sempre Paris. tinha a poderosa carga de um amor passado e edílico, intocável e por isso imortal, em Revolutionary Road a frase, apesar de nunca proferida, paira qual hipótese negra de amor futuro, inexoravelmente ultrapassado pela falta de coragem daqueles que vivem o dia-a-dia suburbano. No final vence o cinismo e, quanto a mim, o filme deveria acabar na cena que melhor simboliza a ideia de fachada e do pesadelo americano/ocidental: quando a personagem de Winslet caminha titubeante até à grande janela que dá para o relvado em frente à sua casa, olha para fora, como se dissesse ao mundo que está tudo bem, e a câmara afasta-se, lentamente, para mostrar que se está a esvair em sangue por devido ao seu aborto caseiro. A mancha que alastra na alcatifa é o incómodo que os Wheelers criaram na sua comunidade ao ousarem questionar o status quo. E por falar em simbolismos, os Wheelers são “fabricantes de rodas” que não vão a lado nenhum.

A “normalidade” vence, posta em evidência pelo personagem do doente mental John Givings, vítima de 37 choques eléctricos, o único com um papel cynical-free, até porque “loucos são pessoas que dizem sempre o que pensam”. E é também Givings que nos dá um dos melhores diálogos ao responder aos desabafos de Mr. Wheeler: Hopeless emptiness. Now you've said it. Plenty of people are onto the emptiness, but it takes real guts to see the hopelessness.

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