segunda-feira, maio 02, 2005
Lone Wolf and Cub
Lone Wolf and Cub de Goseki Kogima e Kazuo Koike (Dark Horse Comics, 28 volumes, à venda na BD Mania)
Para quem ainda não é um iniciado, Lone Wolf and Cub é uma epopeia ao estilo dos Lusíadas, mas com uma grande vantagem: é reader friendly.
A história é a seguinte: vítima de uma intriga maquiavélica, urdida por um clã rival, um samurai é banido da corte de Edo e fica condenado a errar de terra em terra, acompanhado pelo seu filho de 3 anos. Sem um senhor por quem possa lutar e morrer – a honra máxima a que um samurai pode aspirar -, a sua vida deixa de fazer sentido.
Perseguido sem tréguas, ele é obrigado a percorrer um Japão medieval em transformação que, se, por um lado, ainda valoriza a pureza do Bushido – o rígido código de honra dos samurais –, por outro, já percebeu que para evoluir, vai ter de abdicar dele.
É numa terra em mutação, plena de contradições, de contenção máxima e explosão extrema, de reflexão e destruição, de espadas de ferro e armas de fogo, que se movem Ogami Itto e o seu filho, executando assassinatos a troco de dinheiro, cortando os torsos de inimigos e desconhecidos, com golpes perfeitos de destreza suprema, página após página, cadáver após cadáver. Eles são uma espécie de últimos dos moicanos, um lobo solitário e a sua cria, desgarrados da alcateia, os últimos exemplares de uma certa ideia de Japão idílico, que há muito deixou de existir.
Ao longo de 9.000 páginas – leu bem, nove mil páginas –, que começaram a ser publicadas no início dos anos 70, Goseki Kogima e Kazuo Koike conduzem-nos ao encontro de uma nação admirável, pontilhada por centenas de pequenos episódios que nos permitem descobrir a fortíssima relação entre pai e filho, pautada por um implacável código do Bushido que se sobrepõe a qualquer laço familiar, mas ao mesmo tempo e paradoxalmente, serve para fortalecer cada vez mais os laços que os unem.
O que mais impressiona nesta saga é que, embora os episódios espelhem sempre a serenidade brutal da vida de um ronin – samurai sem amo –, nunca ficamos com a sensação de eles se repetirem e, a cada novo episódio, absorvemos sempre um pouco mais da maneira de ser de um povo radicalmente diferente do nosso.
Texto de Ricardo Miranda / Desenho de Frank Miller
Postado por O Despachante às 1:07 da tarde
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