sexta-feira, agosto 25, 2006

Marrocos é isto







É miscelânea de paisagens, de caracteres, de políticas, de culturas e de hábitos.
A Coca-Cola está presente nas regiões mais recônditas, seja em anúncios, numa grade ao lado do omnipresente pão achatado marroquino, à refeição dos turistas (não convém pedir sumos naturais e não há cervejas na maior parte dos sítios) ou à beira da estrada como recipiente para vender mel. A escrita árabe convive, num aparente anacronismo, com os personagens do Walt Disney. A herança milenar berbere vive amigada com jovens conceitos comerciais estrangeiros. Ao contrário do que eu julgava o horizonte desértico é apenas um entre muitos tipos de horizontes geográficos que o reino oferece. Vimos o Alentejo, vimos o México, passámos pela Floresta Negra, atravessámos a Suíça e descobrimos que, apesar de Chefchaouen se poder assemelhar a Amesterdão (devido aos liberalismos), é na realidade a cidade geminada de Mértola (segundo fonte quase segura). Nos mercados, medinas ou souks, encontra-se tudo: talhantes orgulhoso das suas cabeças decepadas, torres intermináveis de bolos, biscoitos e outros doces que quase desabam em cima do vendedor, camaleões e babuchas, dentro e fora de gaiolas, mulheres ocultas e mulheres modernas, e uma interminável variação de todas as expressões de artesania à disposição do regateio dos compradores. Marrocos é tagine, especiarias, sumo de laranja e a hospitalidade do chá de menta, é francês, berbere, árabe, português, espanhol, emigrante, autóctone, turista, praia, montanha, deserto, camelo, burro, mercedes, "grand taxi" e "petit taxi" e figos de cacto. Marrocos é uma t-shirt de contrafacção adidoss à venda ao lado de uma cimitarra com duzentos anos. Marrocos é mais ou menos isto.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há dois anos, saí em busca desse mesmo Marrocos que, ao contrário do que esperava, me deixou encolhida, deprimida e, acima de tudo, incomodada. É fascinante que cada um colha experiências tão diferentes e ainda bem que gostaram. Eu prefiro ver as fotos e não ter de voltar a sentir a ausência de espaço físico próprio nem o cheiro que se me colou à pele durante demasiado tempo.

O Despachante disse...

Não senti nenhuma ameaça ao meu espaço físico, mas quanto ao cheiro comprovámos que, a seguir à décima quinta tagine já toda a gente cheira a marroquino, mais concretamente às especiarias que eles pôem em tudo.