quarta-feira, setembro 27, 2006

Objecto de descrença

O Objecto

Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa dum cão.

Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo foram janela?
Mas se forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.

E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.

E se o prato for de merda
e o literato de esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão

Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são.

Ary dos Santos

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Parece que se tornou comum reconhecer-se publicamente que não se gosta de poesia, facto ao qual não me oponho, até porque anteriormente muitas pessoas reconheciam publicamente que adoravam poesia sem nunca terem lido mais do que dois sonetos do Camões e três estrofes do Vinicius de Moraes. Não tenho lições a dar aos descrentes na poesia, apenas este poema que adoro e quero partilhar.

segunda-feira, setembro 25, 2006

últimos cartuchos





Como o Sr. Lda não nos presenteia com as suas fotos de qualidade, eu posto aqui as minhas humildes "still-lifes" ou seja: um exemplo de contrafacção descarada do logótipo/personagem Super Mário, uma t-shirt que atesta o fervoroso apoio ao Barça no corpo de uma criança que chorava por dhirams e um stencil com o bule do sempre presente chá de menta marroquino.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Já foram.

caderno30


Fico sempre triste com o fim dos caracóis, dos percebes, das gambas e das amêijoas.
E dessa coisa magnífica que é jantar na rua.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Super coooooool



Não sei o que é que as pessoas pensam sobre a mais recente campanha de cariz sexual da Super Bock, mas isto é o que pensa o António Jorge Gonçalves.

segunda-feira, setembro 11, 2006

“Volver”


Almodóvar voltou ao cinema, à sua infância em La Mancha, às suas actrizes e à sua cenografia enraizada, rica em padrões coloridos e calorosos, seja no genérico, nos vestidos, nas batas, nas cortinas ou no papel de parede.
Almodóvar voltou a mostrar o seu humor de costumes e obriga-nos a rir com as carpideiras e os rituais do culto dos mortos. Este é um cinema que quer cimentar a sua própria mitologia e procura inspiração directa na época de ouro do cinema italiano. Um garimpo rápido prova-o facilmente. A galeria de mães, cantoras, traídas, traidoras, putas e filhas almodovorianas não pode ignorar a galeria felliniana; a imagem de Penélope Cruz nunca foi tão sensual, tão generosa nos enchumaços, tão decotada, tão Sophia Loren (veja-se a Sophia de Ieri, Oggi, Domani di Vittorio De Sica); e Almodóvar chega mesmo a dar-nos de bandeja um paralelismo italiano ao mostrar-nos uma mãe extremista (a pirómana Cármen Maura) que vê na televisão um filme com uma mãe extremosa, Anna Magnani no filme “Bellísima” de Visconti. Em ambos os filmes, as mães quiseram introduzir as filhas no mundo do espectáculo.
Almodóvar oferece-nos este paradoxo: em “Volver” vemos a vida como ela é, mas ao mesmo tempo vemos uma ambição de cristalização numa mitologia cinematográfica que vampiriza o próprio cinema.

segunda-feira, setembro 04, 2006

3 diálogos

Um deles é falso, os outros são verdadeiros.

De manhã

- A Liga não vai meter o pé na Federação?
- Não, nesta altura do campeonato já não dá.


De tarde

- Não tem estes óculos no tamanho acima?
- Não, mas na minha óptica ficam-lhe muito grandes.


De noite

- Aquele gajo é mesmo um pão!
- Sim, mas ainda é puto.
- Ok, ok. É um pão de leite.