Sábado, cinco e meia da tarde, numa esplanada na Praça do Giraldo.
- Traga-me uma mini, se faz favor.
- Mini? Mini, o quê?
- Uma mini, caramba.
- Sim, mas tem muita coisa mini aqui.
- Uma cerveja. Uma mini, ora essa.
- Há, cara, não tem não.
Era sábado, nos sábados não há sopa de tomate na Oficina.
Por ser sábado. Toda a gente sabe.
Também não há minis. Muita gente não sabe o que são.
No domingo estive com o J, diz-me vezes sem conta:
- Eu agora não espero nada. É um dia de cada vez. È o que conta. Já não me chateio.
Um dia de cada vez. Não vale a pena. Temos que ir com calma. Devagarinho.
É a vida. É assim. O importante é ter saúde. Isto é tramado, difícil. Sabes como é.
Já não tenho ilusões. Não quero é chatices. Estou bem assim. Com calma.
Depois encontro a C. na caixa do supermercado.
- Então rapaz, não te via há anos, dá cá um beijo.
- Pois é, pois é.
- Tens uma t-shirt muito gira, onde a compraste?
- Não sei... já não me lembro.
- Mas não te via há muito tempo.
- Pois, estou à onze anos em lisboa, sabes como é....
- Também estive em lisboa, a tirar um curso de fotografia. Mas o meu marido roubou-me o coração e voltei, por causa do meu filho.
- Claro, fazes bem.
- Sim, mas tu sabes que foi pelo meu filho, sabes o meu Q.I.
- ....
- Se não sabes, pelo menos imaginas. Eu ainda continuo com a fotografia. Mas fotografia artística. Como sempre foi, aliás.
- ....
- Bem, dá cá mais um beijo, gostei de te ver.
- Também eu, rapariga.
Saio do supermercado com três garrafas de tinto, duas com o nome escrito em braille, e uma tristeza profunda no coração.
1 comentário:
Como eu te entendo...depois dessa conversa também eu ficava assim... :-) (parece-me que já tinha ouvido isto....lololol)
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