terça-feira, fevereiro 05, 2008

that long train

quem me dera ver a paragem branca, a que é só minha, onde já estive e preciso voltar. quem me dera na carruagem, na locomotiva, na fornalha, no motor. quem me dera na linha, na longa linha de ferro, no apito distante na planície vermelha. quem me dera perdido para sempre. quem me dera alguma cor.

doí-me o abrir da porta, o som que faz. o silêncio cá dentro, o peso, caramba, é demais. três passos, e dobro. três passos e caio. deixar-me estar embrulhado, já me satisfaz. e o brilho? o sorriso limpo, da manhã? anda perdido nos carris dobrados pelo calor da roda. e o cheiro? ácido, verde, corrosivo, amargo da paisagem desfocada pelo vidro baço de um tempo que não torna.

sozinho, banco de pele gasta. revisor de placa de madeira mais gasta. mala cheia de roupa preta. gasta. gostava dos carris, dos caminhos e das paragens. do assobio e da bandeira vermelha, dos olhos vermelhos do vapor, do fumo. ou era do motor eléctrico? gostava de não misturar isto tudo. de ter estado mesmo antes, e não sonhar agora.

apeadeiro. piedade. soledad. madrugada em santa eulália. não estarão os meus pais lá? ou apenas eu fora de mim, contra mim. no mapa não há nomes onde parar, apenas uma linha preta, longa e retorcida que corre, contorna e divide. a marca ainda está, tua, no sofá.

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