domingo, abril 20, 2008

E assim me angustio

A morte é uma coisa dos vivos.

Só eles pensam e se remoem a pensar nela.
Só eles se angustiam quando aparece na pessoa de um familiar desaparecido.
Só eles se agarram às minudências da mundanidade final.

- Pelo menos não sofreu.
- Pelo menos os filhos já estão crescidos.
- Pelo menos tinha a vida arrumada.

Velórios, enterros e cremações são uma autópsia de grupo
Que emite lugares comuns sobre o único lugar onde seremos sempre estrangeiros
E ignorantes.

- Está no céu..
- Está na terra.
- Está no jardim.

Com o nascimento, os vivos, têm nove meses de preparação, e não chega.
Com a morte recebem uma vida inteira e é sempre uma revolução que se instaura
Sem ideais.

A inadequação é definitivamente a única forma de lidar com ela.
Por mais avisos, telejornais ou electrocardiogramas, nunca ninguém vai aceitar que

A morte é uma coisa dos vivos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não está no jardim, porque apenas tinha um relvado, já não está na Terra porque foi cremado e no céu quem sabe?
Os jovens reflectem sobre a morte e eu que pensava que lhes era longínqua e indiferente