terça-feira, abril 17, 2007

Casa-Trabalho 3







Armei-me em António Barreto e tirei várias retratos enquanto conduzia de casa até ao trabalho, da Graça até às Docas, sempre junto ao rio. As pessoas com quem me cruzei são na maioria velhos (a população activa já devia ter pegado ao trabalho), são avós com os netos, os sem-abrigos, um estranho casal (marido e mulher? mãe e filho? que abandona um táxi com ar de quem tem de se apresentar no tribunal) a adolescente que oferece o jornal Metro, o arrumador ressacado, os reformados que bebem um bagaço às 10h da manhã, um ou outro engravato atrasado para uma reunião e os desportistas saudáveis que correm junto ao rio. Quase todos tristes, não vi sorrisos, nãõ vi roupas coloridas. Lisboa não é branca, as pessoas carregam consigo e com os seus problemas uma palette pobre: castanho, sépia e cinzento, caras e cores deslavadas, descosidas e coçadas. A arquitectura está velha, com graffitis e mensagens semi-tribais feias e incompreensíveis. Mas Lisboa, neste retrato de passagem, está essencialmente entaipada, há tapumes de metal por todo o lado e por um tempo indeterminado que dura várias legislaturas. Eu adoro Lisboa, mas olhando para os retratos que tirei, Lisboa está adiada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ao ver estas imagens, gosto ainda mais do campo! E é uma pena porque esta cidade tem tudo para ser uma cidade fantástica. Ainda no outro dia alguém comparava Lisboa a Nova York...dá que pensar.

Anónimo disse...

Esta Lisboa que nós deixamos ficar assim. Não há um responsável pela edilidade? Quem se rala com este estado de coisas? Até os tapumes podiam ser decentes. Povo com o pé a fugir, não para a chinela mas para o pé descalço ou babucha do Norte de Africa.
Somos "africanos" não europeus quer se queira quer não

S. disse...

Eu faço este trajecto mais ou menos todos os dias (Martim Moniz/Alcântara) e todos os dias passo pelos tapumes, pelas pessoas que se atropelam para atravessar da estação do Cais do Sodré para o Mercado da Ribeira, e que se tropeçarem... vão passar o fim de semana à terra. Se vier de autocarro, a fuligem cobre as paredes da rua que vai até Santos...E Lisboa podia ser tão bonita se não houvesse tanta insistência em mantê-la inalterada desde há décadas. Tss, tss...
Ah... só mais uma coisinha: Um dia decidi vir a pé da agência até casa (quase na Graça) e não foi uma experiência agradável. Carros, carros e mais carros, fizeram-me desejar uma daquelas máscaras que os japoneses usam em dias de smog... enfim, cenários de uma cidade num país que anda a brincar com os acordos de Kyoto. Porque pode.

(bem, já me calava. bem hajam neste vosso bloguito.)