A luz de fim de tarde que me encandeia os sentidos, desperta a vontade de não adormecer o corpo em cima da cama, ainda por fazer. Gritei numa mensagem a vontade de inverter o conselho que a minha mãe certamente me obrigaria a cumprir: descanso. Vem de volta a promessa de uma cerveja leve ao lado do pesado Adamastor... Depois da segunda rodada desembarca a pergunta: E agora? - Agora vamos a uma festa com o rosto do número de uma porta aqui no bairro. Vamos pois. À medida que subíamos as escadas encontrámos uma mostra de arte que abraçava as paredes e as divisões de dois pisos com pinturas, fotografias e uma instalação de vídeo, brindada com vinho tinto, sangria e Sarah Vaughan. No percorrer da exposição de sala em sala, entrei numa cozinha onde estava um grupo a conversar e aí apercebi-me que a mostra era em casa dos artistas, e eu movimentava-me avidamente pelo seu espaço, sem conhecer nenhum deles. Não houve perguntas, só sorrisos... se tivesse encontrado este espaço em Berlim dizia-me certamente alguém - à pois é, Berlim é muito à frente amigo...
sexta-feira, abril 29, 2005
quarta-feira, abril 27, 2005
The Name of the Rose
O livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco, termina com a frase "stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus." Eco explica esta frase no Postcript to The Name of the Rose:"Since the publication of The Name of the Rose I have received a number of letters from readers who want to know the meaning of the final Latin hexameter, and why this hexameter inspired the book's title. I answer that the verse is from De contemptu mundi by Bernard of Morlay, a twelfth-century Benedictine, whose poem is a variation on the "ubi sunt" theme (most familiar in Villon's later "Mais ou sont les neiges d'antan"). But to the usual topos (the great of yesteryear, the once-famous cities, the lovely princesses: everything disappears into the void), Bernard adds that all these departed things leave (only, or at least) pure names behind them. I remember that Abelard used the example of the sentence "Nulla rosa est" to demonstrate how language can speak of both the nonexistent and the destroyed. And having said this, I leave the reader to arrive at his own conclusions."
Postado por Sr. Nefasto às 4:59 da tarde 0 comentários
Plano Coreano
Este é o melhor jogo de sempre. Uma raridade do tempo em que os gráficos eram desenhados pixel a pixel - não por saudosismo, mas porque não se podia fazer doutra forma. "Outzone" é uma das obras de arte feitas pela Toaplan em 1990. A empresa já não existe, o tempo corre rápido no mundo dos videojogos, mas continuarei a jogar OutZone dentro de 10 anos. É apenas acção, velocidade e violência sem nenhum tipo de história a incomodar. Tudo feito de forma belíssima. Boom! Game Over, Try Again?
Postado por Sr. Nefasto às 3:12 da tarde 0 comentários
sexta-feira, abril 22, 2005
Das cinzas dos outros
Mas é claro que das coisas nascem coisas, veja lá este exemplo finamente rebuscado da empresa de mudanças "Van Gogh Movers" que transportam alegremente a orelha do pobre pintor. Estou certo que lhe despertará um sorriso. Existe um enfartamento, sim senhor. E volto aos readymades, desde que surgiram que a arte vampiriza o quotidiano e a própria arte. É legítimo, pois é. Mas enquanto for assim, arte irá escrever-se sempre com "a" minúsculo. Contra mim falo, que gosto mais de certas covers do que incertos originais. Mas onda estará a verdadeira originalidade? Picasso foi mais original a alimentar-se das máscaras africanas para "Les Demoiselles d'Avignon" ou de "Las Meninas" de Velasquez para as suas variações sobre um tema? Venham de lá essas ruínas.
Postado por O Despachante às 4:35 da tarde 1 comentários
Das coisas nascem coisas, lá dizia o outro.
Tudo isso é muito bonito Sr.Funesto, repare que quando falo (!) em imagens sem significado é em sentido figurado. Claro que todas as imagens comunicam, o problema é precisamente esse. Somos vítimas de um enfartamento de imagens/comunicação de significado desnecessário e banal. Esse ruído visual esconde e distrai-nos quase sempre do importante. Apenas no largo de Alcântara existem dezasseis outdoors. Poderá argumentar que o que eles escondem é a cidade em ruínas, mas eu tenho que responder que existem mais histórias nessas ruínas do que nos sempre renovados outdoors.
Postado por Sr. Nefasto às 4:20 da tarde 0 comentários
Readymade
Desde 1913, o ano em que o excelentíssimo Sr. Duchamp espetou uma roda num banco (primeiro ready made), que temos vindo a ser soterrados por um crescendo de conceitos e ideias. “O conceito de ready made não reside no trabalho em si, mas na ideia que está por trás. A ênfase é colocada no artista, não enquanto artesão, mas enquanto entendedor cuja escolha de um objecto é vista como um acto criativo.” Ora se tudo tem uma ideia por trás, um “twist”, algum “wit” que obriga o receptor a trocar por miúdos aquilo que está a ver, se a mais inocente das imagens acaba sempre por ser uma complexa metáfora de outra coisa qualquer, seja em arte, design ou publicidade, então estamos num mundo muito cansativo. Àaaaah! Já percebi! Não me interprete mal, Sr. Nefasto, eu adoro os “sorrisos da mente”, mas cansa estar sempre a rir. Quando me rio muito tenho saudades da melancolia.
Quanto às imagens das revistas, realmente são muitas e não prendem mais que uns milésimos de segundo. Quando alguém se demora um pouco mais até lamber novamente o dedo, isso deve-se à simplicidade. Simplicidade do estímulo presente na imagem (sexo) ou simplicidade da mensagem / lay-out. Assim de repente lembro-me da Sisley e depois, só depois, da Apple.
E não é que até existe uma revista chamada: www.readymademag.com.
Postado por O Despachante às 2:06 da tarde 0 comentários
De como Gargantua comeu mil palavras.
As imagens foram em tempos coisas preciosas, guardadas com respeito e cuidado. Eram armas perigosas que nas mãos erradas poderiam despoletar graves acontecimentos. Serviram para doutrinar os ignorantes que desconheciam a palavra. Mas as coisas mudaram muito. Agora é raro encontrar uma imagem valiosa, que nos toque no coração, que nos impressione. Passámos a procurar essas réstias de significado com avidez, e como antigamente compartilhamos religiosamente as imagens do nosso contentamento.
Reparem como podemos comprar revistas da moda com dezenas de páginas repletas de imagens - a cores - e nunca ler uma única linha. Em menos de cinco minutos absorvemos todas as fotografias, memorizamos os truques para utilizar mais tarde naquele trabalho que deve ser jovem/irreverente/moderno/exclusivo/... mas nenhum significado. Apenas referentes de referentes, citações de citações, pastiches sobre pastiches. neo-neo-neo...
Postado por Sr. Nefasto às 11:23 da manhã 0 comentários
quinta-feira, abril 21, 2005
5pointz
Em Queens encontrámos uma galeria a céu aberto com todos os graffitis que sempre desejaramos ver em Nova Iorque.
http://www.sleepingfish.net/5cense/5ptz.htm
Postado por O Despachante às 7:07 da tarde 0 comentários
- Como é que morreu a tua avó?
Aparecem empilhados e mal dispostos, cinzentos, húmidos e peganhentos.
Requintados com orégãos e sal, cozidos com palavras de afogamento e desejos de paladares picantes.
Aí estão eles finalmente, geladamente acompanhados pela nossa amiga de sempre.
Venham brindar-nos com o cheiro do calor da terra,
com o ardor quente do verão que espreita,
e quando curvados perante tal visão desarrumada:
não falamos
não resmungamos
não sorrimos
só engolimos
aceleradamente um atrás do outro
mais um
e mais outro
hummmm
e outro
e outro
...
- Como é que morreu a tua avó?
- De repente! Respondo.
E mais um
e mais outro
e outro
e aquele ali... de fora a querer namorar a minha língua
anda cá...
que bom podermo-nos encontrar de novo.
Sim! sim! mais uma travessa.
Postado por Luis Mileu às 6:16 da tarde 0 comentários
Booking
The Disappointment Artist - Jonathan Lethem
The Acme Novelty Date Book - Chris Ware
The Originals - Dave Gibbons
Postado por O Despachante às 5:45 da tarde 1 comentários
terça-feira, abril 19, 2005
segunda-feira, abril 18, 2005
Correr atrás de mim
“Se nesse dia eu tivesse medido 3 metros e 28 centímetros e tivesse chegado com a minha cabeça depositada numa bandeja, não essa cabeça que às vezes já imaginaste quando não estou, quando ainda não cheguei, quando ainda não sou eu, mas sim essa cabeça que é outra cabeça na qual não te encontras, nem descobres sinais, nem um corpo, nem uma voz que te fale. Ei!, cai o fruto da árvore, a lágrima do abandono. É o mundo, é o sonho, é o teu nascimento, é o dia em que cai a tua cabeça. Devias estar contente porque ainda conservas o teu sorriso. Ei!, é o som, o reconhecimento das vozes que te habitam, o rumor do rio. Ah, se eu tivesse sido essa cabeça e a fúria da espada e o caminho desesperado que se segue para deter o juízo com as lágrimas crispadas entre os braços e uma árvore, uma enorme árvore desmaiando dentro do peito. Corre, corre, corre, corre. Se o fizeres depressa talvez possas chegar a ver o dia da tua morte. 3 metros e 28 centímetros com a cabeça bordada no passado e a música submersa. Corre, corre, corre, até conseguires dar com as tuas costas, até te encontrares contigo próprio e te aperceberes que corres atrás de ti, corre até ultrapassares 365 dias e veres o mundo como um chapéu que um elefante comeu e esse elefante foi comido por uma serpente.”
Oliverio Macías Alvarez
in Um Mundo Estranho
Postado por O Despachante às 4:47 da tarde 0 comentários
O poeta chorava...
O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
nelas buscava Uma estrela talvez a salvação?
O poeta era sinceríssimo
honesto
total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões
E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista
comprou jornais foi para casa leu tudo
quando chegou à página dos anúncios
o poeta teve um vómito que lhe estragou
as únicas que ainda tinha
e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro
mas é inevitável é um bem é uma dádiva
Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza
negai-lhe o amor que ele mesmo abandona
caçai-o entre a multidão
crucificai-o de novo mas com mais requinte.
Subsistirá. É pior do que isso.
Prendei-o. Viverá de tal forma
que as próprias grades farão causa com ele.
E matá-lo não é solução.
O poeta
O Poeta
O POETA DESTROI-VOS
Mário Cesariny
nobilíssima visão
Colecção Poesia e Verdade
Guimarães & C.ª Editores
1976
Postado por Sr. Nefasto às 4:41 da tarde 0 comentários
sexta-feira, abril 15, 2005
Wilma
O efeito da campanha é mil vezes mais forte do que se tivessem sido utilizadas modelos perfeitas ou actrizes conhecidas. Outra modelo de animação que também se rendeu à suavidade foi aquela miúda inteligente e de óculos do Scooby Doo.
Postado por O Despachante às 1:07 da tarde 0 comentários
Break
No Metro de N.Y. existe uma nova música atrás de cada pilar, os sempre presentes iPod's, sinais a proibir a utilização de rádios-tijolo, músicos solitários, famílias tipo Jackson 5 a cantar sobre a vida familiar, bandas de Blues, rappers e o pessoal do break dance. Nova Iorque está longe de se esgotar, caro Sr. Nefasto.
Postado por O Despachante às 1:07 da tarde 0 comentários
Marge
"Goodbye stickiness, Hello movement." Anuncia este novo amaciador da Dove.
Postado por O Despachante às 11:59 da manhã 0 comentários
quinta-feira, abril 14, 2005
Hell bent for Leather
Originally uploaded by Sr.Nefasto.
Gombrich? Merleau Ponti? Munari? Eco?
Por vezes temos que fazer uma queima para que tudo seja renovado. Ir de novo ao fundo, onde as coisas são simples e directas. Onde as coisas são institivas e animais. Deixar o som queimar.
Depois - como novos - recomeçamos.
Porque não existe vida até à pele.
Postado por Sr. Nefasto às 2:19 da tarde 0 comentários
quarta-feira, abril 13, 2005
Manhattan
Manhattan é um nome índio, tal como Ronrokoma, Yaphank e Mineola, terras dos arredores da cidade, em Long Island. Passeámos por ali, em confronto com aquela ruralidade das viagens de carro e das Diners de estrada, regadas com muita syrup, panquecas, waffles, capuccinos e "Yes, Honey!". Mas Nova Iorque fica mais para a esquerda, a ilha com Bronx, Queens e Brooklyn. Tudo o resto é o mesmo que viver em Leiria, acrescido de desvantagens: em Leiria não somos obrigados a dar 15% de gorjeta e a tropeçar em bandeiras americanas a cada olhar.
Postado por O Despachante às 7:07 da tarde 0 comentários
Ode nº2
Ode à Posta
Aí estás tu Posta!
À espera no altar
De beiços e traqueia
À altura da tua languidez.
Ó Posta do meio!
Aí estás tu Posta!
Na luta com o alho
E a nadar de bruços
Num alagar de azeite.
Ó Posta de lado!
Aí estás tu Posta!
No prato redondo
A seduzir o gosto
E a escorregar com sangria.
Ó Posta do meio!
Aí estás tu, Posta!
A descansar na tua memória
De águas nórdicas
E comensais ébrios de ti.
Ó Posta de lado!
Postado por O Despachante às 5:17 da tarde 0 comentários
segunda-feira, abril 11, 2005
Ode nº1
Assim como o designer que quer ser alguém deve desenhar uma superleggera, também todo aquele que escreve em algum lado deve compor uma Ode. Saber tocar harpa é opcional nos dias de hoje.
Por isso, e com afinação em Sol maior, aqui está:
Super Ode à Orgia de Sangria
Vieste p'la rua abaixo, com esse teu andar pausado
Vieste deixar-me a garganta seca com o teu olhar abrasador
Agora que partiste só me resta correr apressado
Para a esplanada do Adamastor.
Sangria, Sangria Desatada.
Sangria, mais Sangria. Sim, Senhor!
Nas tardes de semana na esplanada ou na tasca do bacalhau,
E chegar à Agência com aquele requintado odor.
Embalado no paladar do seu suave torpor.
Babar para o teclado e ligar o aspirador.
Sangria, Sangria Desatada.
Sangria, mais Sangria. Sim, Senhor!
Como refrescas, como alegras o nosso espírito ressequido por tanto briefing sem-sabor,
Minha inspiração divina, tu não és a crua verdade mas sim a doce realidade.
Vens sempre em jarros cheios como te manda o criador,
Partes no Inverno enchendo de tristeza a nossa enregelada despensa.
Sangria, Sangria Desatada.
Sangria, mais Sangria. Sim, Senhor!
Sangria, Sangria Desatada.
Sangria, mais Sangria. Ó Sim, Senhor!
Sr. Funesto, supere esta calamidade.
Postado por Sr. Nefasto às 3:45 da tarde 0 comentários
sexta-feira, abril 08, 2005
PS1
Coincidência ou não, atravesso para Queens para ver a exposição do PS1 (160 artistas emergentes comissariados pelo MoMA) e descubro mais trabalhos do dito senhor, nas escadas do edifício, antiga escola com 200 anos.
Postado por O Despachante às 7:32 da tarde 0 comentários
A urbe nova iorquina
Descobri num beco de Chinatown estes desenhos. Fiquei fascinado com a qualidade do traço, com o aspecto do papel e com a integração no cenário envolvente.
Postado por O Despachante às 7:25 da tarde 0 comentários
quinta-feira, abril 07, 2005
In a manner of speaking
E ali estávamos nós, Knitting Factory, cansados da caminhada citadina, a ouvir uns desconhecidos conhecidos por simpatia dos Nouvelle Vague. Gostei.
Postado por O Despachante às 12:01 da tarde 0 comentários
Meatpacking District
New hype area? Much ado about nothing.
Postado por O Despachante às 11:53 da manhã 0 comentários
Ver ao longe
Até para ver melhor é preciso uma moedinha.
Postado por O Despachante às 11:53 da manhã 0 comentários
Ballad of The Soldier's Wife
What was sent to the soldier's wife
From the ancient city of Prague?
From Prague came a pair of high heeled shoes,
With a kiss or two came the high heeled shoes
From the ancient city of Prague.
What was sent to the soldier's wife
From Oslo over the sound?
From Oslo he sent her a collar of fur,
How it pleases her, the little collar of fur
From Oslo over the sound.
What was sent to the soldier's wife
From the wealth of Amsterdam?
From Amsterdam, he got her a hat,
She looked sweet in that,
In her little Dutch hat
From the wealth of Amsterdam.
What was sent to the soldier's wife
From Brussels in Belgian land?
From Brussels he sent her the laces so rare
To have and to wear,
All those laces so rare
From Brussels in Belgian land.
What was sent to the soldier's wife
From Paris, city of light?
From Paris he sent her a silken gown,
It was ended in town, that silken gown,
From Paris, city of light.
What was sent to the soldier's wife
From the South, from Bucharest?
From Bucharest he got her this shirt
Embroidered and pert, that Rumanian shirt
From the South, from Bucharest.
What was sent to the soldier's wife
From the far-off Russian land?
From Russia he sent her a widow's veil
For her dead to bewail in her widow's veil
From the far-off Russian land,
From the far-off Russian land.
Kurt Weill
Postado por Sr. Nefasto às 9:53 da manhã 1 comentários
quarta-feira, abril 06, 2005
La femme
Postado por Sr. Nefasto às 6:43 da tarde 1 comentários
Por este andar nunca vamos ser amigos
Na geometria, dois planos paralelos não têm nenhum ponto em comum, tendem no entanto a encontrar-se no infinito. Mas como o infinito é uma abstracção muito grande, na realidade, não têm nenhum ponto em comum. Embora um plano contenha infinitos pontos, bastam três para o definir. Logo, basta conhecer seis pontos para afirmar com toda a certeza se dois planos são ou não paralelos.
Neste tempo de religiosidade exacerbada, e para me salvar desta questão dos planos paralelos devo criar dogmas de fé suficientes para me sentir melhor e mais seguro. Por isso embarco alegremente nesta atitude maniqueísta:
Dogma 1:O design e a publicidade existem em planos paralelos.
Dogma 2:Um bom produto dispensa publicidade, descodifica-se e avalia-se por si só.
Dogma 3:A publicidade tende a exercer a chamada “hiper-valorização do supérfluo”
Vou ilustrar o dogma 3, como fazem as religiões, com um exemplo de vida.
Observei recentemente um amigo meu, vendedor de carros exímio, a impingir uma carrinha a um pobre coitado. No melhor estilo americano, o carro foi apresentado, elogiado e vendido em minutos. O vendedor fala sem parar, valendo-se de uma capacidade pulmonar digna de nadador olímpico, destacando todos os insignificantes detalhes da carrinha. Refere o local muito bem dissimulado onde está a referência da cor da pintura, as gavetas e suportes e apoios e portinholas e espaços de arrumos que se abrem suavemente sob o leve toque do dedo, o indicador da temperatura dos vidros, da humidade do ar e da hora em vinte e cinto fusos horários diferentes. Carro vendido.
Mas o motor de explosão, esse é o de sempre. O mesmo desde a revolução industrial.
Para quê falar das coisas que continuam iguais? Que continuam a funcionar mal mas que são o cerne da questão? Viva a Hiper-Valorização do Supérfluo.
Sobre o Dogma 2 vou afirmar a minha obstinação em recusar escrever coisas sobre os meus projectos, tudo o que vá além de descrições técnicas parece-me arrogante e falacioso. Não farei “descritivos” nem “concepts” nem coisa que o valha. Se quem vê não percebe ou não encontra sentido no trabalho então o trabalho não serve.
Filhos, deixai as memórias conceptuais para os biógrafos. Desenhai e voltai a desenhar. Até que os pobres de espírito vos entendam e se faça luz nas suas almas. De outra forma ide-vos sentir como eu me sinto muitas vezes. Vendido.
Postado por Sr. Nefasto às 5:53 da tarde 0 comentários
terça-feira, abril 05, 2005
You're Judged.
Judge Dreed é um polícia-juiz tipo Dirty Harry.
Que apanha, julga e condena num único e contínuo movimento do longo braço da lei.
Aquilo que era ficção inglesa agora é realidade portuguesa. Se formos multados pela brigada de transito ou pela PSP teremos que pagar no acto ou então ficamos sem alguns (!) documentos.
Assim, somos apanhados, julgados e condenados como em Mega-City One. Será que a antiquada farda da BT vai ser redesenhada segundo a moda Dreed? Com um dourado terminal multibanco ao ombro?
A Vida supera - sempre - a ficção. Mesmo a mais bizarra.
Postado por Sr. Nefasto às 9:50 da manhã 1 comentários