quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Post-modern

Os livros dele não me dizem nada. Ou melhor, fico com a impressão passadas vinte páginas que aquelas palavras não são para mim, foram escritas de si para si apenas. Mas nas suas crónicas da Visão – minha menina – encontro coisas que me dizem muito.
A última que li contava ele que não tinha muitos amigos, nem era grande companhia pois não gostava de conversar, mais facilmente se entretinha sozinho, a brincar dentro da sua cabeça, a alinhar palavrinhas. Também não tinha cartões, Multibanco ou
Visa, andava com o dinheiro no bolso como os vendedores ambulantes e os traficantes de esquina. E agora tinha como companhia um velho bêbado que o convidava a beber com o dinheiro que lhe pedia e o aconselha a não se dar com os brutos da tasca que lhe tiram a educação – doutor.
E como gostaria de se deitar com o velho bêbado à soleira da tasca e dormir.
Eu tenho alguns cartões e uma hipoteca e um contrato de prestação de serviços e um cartão do ginásio.
Algo se perdeu dentro de mim. Ou pela falta de álcool ou por outra coisa qualquer. Sinto falta dos tempos de adolescente, passados na margem da legalidade, entre sestas no jardim público e garrafas de Sagres de litro.
Agora é mais Autocad e 3dMax. Desenhos técnicos e renders. Mesh, nurbs e splines. Para fazer merdas. Merdas que pagam o IVA e o IRS, e a segurança social que ainda não me mandou o cartão. Alguém que me dê um razão para tanto cartão.
Matem de pós-moderna morte todos os cartões.
A irmã Lúcia tinha lucidez para não ter cartão?

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