segunda-feira, março 07, 2005

Estas são as últimas


arrancado
Originally uploaded by Sr. Funesto.

Da penúltima vez que mudei um pneu, há cerca de dois meses, descobri que os macacos agora são diferentes, mais pequenos e já não se colocam debaixo dos automóveis, mas debaixo das portas, numa área reforçada, descobri que existem porcas com um desenho diferente para que não roubem pneus e descobri que não mudava um pneu há cerca de 10 anos.
Da última vez que mudei um pneu, a semana passada, consegui aumentar ainda mais o meu nível de conhecimentos, menos fundamentais, mas conhecimentos. Aprendi que um pneu pode rebentar ao bater “de esquina” num passeio, aprendi que não vale a pena ir à Oficina de Santa Marta, porque eu só trato dos assuntos de tarde e então é melhor ir directamente à Garagem Rio de Janeiro. Nesta garagem enquanto esperei pelas trocas de pneus, jantes, tampões e carecas para trás, vi-me a conversar com um homem, septuagenário em forma, capaz de levantar um pé ao nível da cabeça da mulher, acto que demonstrou ali mesmo e a cores. A mulher não era muito alta, mas fiquei impressionado à mesma. Américo de seu nome, há 52 anos que calcorreia as estradas em serviço, sem nunca meter férias, porque a sua vida já são umas férias. O carro à minha frente no alinhamento de direcção era um dos tais do Sr. Américo, Mercedes preto, “duro que aguenta murros, o último da linha de montagem, dez mil contos, de 95, originalmente de um azul lindo, assim como o seu casaco”. Entre histórias de serviços a administradores de bancos, Phill Collins, Mick Jagger, Ronald Reagan, casamentos reais e ao embaixador da Venezuela, contou-me que teve doze mulheres ao mesmo tempo e até se enganava nos nomes. De vez em quando parava entre pormenores para pedir comprovações à mulher, “Teresinha diz lá ao senhor com quantas é que eu andava quando te conheci?”. Quanto a mim, sorri, ouvi, anui e pedi-lhe um contacto para arranjar um lanternim dos antigos Táxis. Um autoclismo? (calão taxista para o dito) E ficou com a minha morada, onde desenhou o objecto do meu desejo. “Não, não eu não queria desses direitos queria aqueles assim.” - disse e desenhei. "Áaaah, já sei, esses são ainda mais antigos, chamamos-lhes bombocas."

P.S. Se não fosse o preço dos pneus, poderia prever um futuro risonho para os furos que aí vêm. E acrescento, para poder colar texto com imagem, que há uma beleza especial nas coisas que deixaram de ser e são agora outra coisa.

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