Fórum Lisboa cheio. Tudo muito bem sentadinho.
A razão de ser da noite entra no palco de vestido branco de folhos e ar tímido (pelo menos ao longe). Agarra na sua guitarra eléctrica e arrebata as minhas expectativas logo à primeira canção. O disco Let it Die é um bom disco, limpo, melódico, introspectivo, melancólico, iludido, desiludido, sempre certeiro no equilíbrio voz-letras-música.
Eu não estava preparado para aquilo, para aquela abordagem. Já não sei qual foi a canção. Gatekeeper? One Evening? Sei que a voz intervalava com a guitarra e as duas respeitavam-se exemplarmente. Lembrei-me da banda sonora do filme Dead Man, daquela fantástica guitarra do Neil Young a cruzar a paisagem westerniana de Jim Jarmusch. A guitarra eléctrica quando respeita os silêncios ganha contornos de instrumento de orquestra. Arrepia. Nunca esperei ficar conquistado assim, à primeira. A partir daí tudo podia correr bem, e correu. Um concerto é um conjunto de factores que ultrapassam a qualidade da interpretação. Existe a simpatia, a interacção, o sentimento de estar a viver um momento irrepetível. Tudo isto aconteceu. Desde Feist ter convencido os mais “cool” a virem sentar-se à frente. “the ones who seat at front in theatres are the same that used to seat on the back of the bus.” a ter conseguido pôr toda a gente a cantar o “malhão, malhão” para o telemóvel numa ligação para a cunhada com o apelido “Lisboa”, tudo se conjugou para tornar aquele concerto único. A guitarra, dois microfones, um para suspirar, outro para cantar e um sampler que serviu para duplicar a voz ou trazer o piano de Gonzales ao palco fizeram a festa. As colaborações com os amigos Mocky, Broken Social Scene ou Apostle of Hustle ajudaram a enriquecer o alinhamento para lá de “Let it die”.
Na última musica, já encore, dançámos ao pé do palco com os seguranças do Fórum Lisboa a lançar aquele olhar intimidante “só me pagam até às 11 da noite”. Já cá fora, ficámos a falar até desaparecer a pequena multidão e surgir um modesto Renault Mégane onde à força de muita persistência tetriana coube todo o material do concerto e ainda uns três técnicos. Leslie Feist apareceu, fez uns comentários e ainda sugeriu que talvez fosse mais interessante fazer a viagem para o Porto de carro e não de avião. Demos-lhe os parabéns pelo concerto e regressámos a casa convictos que aquele tinha sido um concerto completo.
sexta-feira, julho 29, 2005
The saddest part of a broken heart
Postado por O Despachante às 4:23 da tarde
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4 comentários:
Nefasto e funesto:
Gosto muito deste blog. De vez em quando dou cá uma saltada e delicio-me a ler as poucas linhas ou a ver os bonecos.
Este comentário sobre o concerto está certeiro (penso eu) e só tenho pena de não ter ido lá. Amanhã há o grande concerto daquela senhora chamada Mariana. Não percam
E.Kienholz
PS.Não percebo porque é que os comentários costumam ser 0. Preguiça? passividade lusitana? Iletracia? Não sou bom a portugês?
Falta de opinião? ou de sentido de humor? As duas coisas?
Obrigado Sr. Kienholz, os comentários são sempre um bálsamo. E mais balsâmico ainda, é saber que há pessoas que se deliciam com as nossas escolhas de palavras e imagens. Quem é a Mariana? Penso que o "0" se deve à preguiça e pouca divulgação do blog.
A grande senhora Mariana é, só podia ser, a Marianne Faithfull. O porte está um bocado avantajado, mas ela até era escanzelada, mas a pose e a voz estão na mesma. E continua, nos seus sessenta e tais, linda. Valeu a pena ir a Cascais.
Edward Kienholz
oh feist... :)
que sorte, que sorte...
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